CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
CAPÍTULO TRINTA E SETE
"Ceres! Ceres! Ceres!"
Ceres conseguia sentir o cântico da multidão tão nitidamente quanto o seu próprio coração a bater. Ela ergueu a espada em reconhecimento, segurando-a com força, testando o couro. Para si não era importante que eles apenas tivessem sabido o seu nome há momentos. Era suficiente que o soubessem e que isso reverberasse em si, para que o pudesse sentir quase como uma força física.
Do outro lado do Stade, de frente para ela, o seu oponente, o enorme lorde de combate, caminhava de um lado para o outro, na areia. Ao vê-lo, Ceres engoliu em seco, ainda com mais medo, por mais que o tentasse suprimir. Ela sabia que esta poderia muito bem ser a última luta da sua vida.
O lorde de combate andava como um leão enjaulado, a balançar a sua espada no ar em arcos, que pareciam projetar-se para exibir os seus músculos salientes. Com a sua armadura peitoral e elmo com viseira, parecia como se ele tivesse sido esculpido em pedra. Era difícil para Ceres acreditar que ele era simplesmente de carne e osso.
Ceres fechou os olhos e preparou-se mentalmente.
Tu consegues, disse para si mesma. Podes até nem ganhar, mas deves enfrentá-lo corajosamente. Se é para morreres, deves morrer honradamente.
Uma trombeta soou nos ouvidos de Ceres, fazendo-se ouvir mesmo por cima do som do uivo da multidão. Tal encheu a arena. De repente, o seu adversário avançou.
Ele foi mais rápido do que ela pensava que um homem grande conseguia ser, atacando-a antes de ela ter hipótese de reagir. Tudo o que Ceres conseguiu fazer foi esquivar-se, levantando poeira ao desviar-se do caminho do guerreiro.
O lorde de combate girou a espada com as duas mãos e Ceres baixou-se, sentindo o ar a passar por si. Ele golpeava como um talhante empunhando um cutelo, e quando ela girou e bloqueou o golpe, o impacto do metal no metal fez com que os seus braços estremecessem. Ela achava que não era possível um guerreiro poder ser tão forte.
Ela afastou-se e o seu oponente seguiu-a com uma inevitabilidade sombria.
Ceres ouvia o seu nome misturado com os gritos e vaias da multidão. Obrigou-se a manter o foco; ela mantinha os olhos fixados no seu adversário e tentava lembrar-se dos seus treinos, pensando em todas as coisas que podiam acontecer a seguir. Ela tentava golpear e, depois, contorcia o seu pulso para responder com a sua espada ao ataque.
Mas o lorde de combate limitou-se a grunhir quando a espada dela lhe fez um pequeno corte no antebraço.
Ele sorriu como se tivesse gostado.
"Vais pagar por isto", avisou ele. O seu sotaque era encorpado, de um dos cantos distantes do Império.
Ele atacou-a outra vez, obrigando-a a desviar-se e a esquivar-se. Ela sabia que não podia arriscar um confronto direto, não com alguém tão forte.
Ceres sentiu o chão ceder debaixo do seu pé direito, uma sensação de vazio ali onde deveria ter havido um apoio firme. Ela olhou para baixo e viu areia a cair para um fosso. Por um momento, o seu pé ficou pendurado sobre o espaço vazio. Cegamente, com a sua espada, ela tentava impulsionar-se para fora dali, enquanto lutava para manter o equilíbrio.
O contra-ataque do lorde de combate era quase de desprezo. Por um instante, Ceres teve certeza que ia morrer, porque não havia nenhuma maneira de parar completamente o ataque. Ela sentiu o impacto dissonante do golpe contra a sua espada, que, ainda assim, desacelerou ao embater na sua armadura. A sua armadura peitoral fez pressão contra o seu corpo com uma força contundente. No local onde aquela terminava, ela sentiu uma dor quente a queimá-la quando a espada lhe proferiu um corte ao longo da sua clavícula.
Ela cambaleou para trás e, ao fazê-lo, viu mais fossos a abrirem-se ao redor do chão da arena, como se fossem bocas de animais famintos. E então, desesperada, ela teve uma ideia: talvez ela conseguisse usá-los em sua vantagem.
Ceres contornava as bordas dos fossos, na esperança de retardar a aproximação dele.
"Ceres!", chamou Paulo.
Ela virou-se e a sua guardiã de armas atirou uma curta lança na sua direção. Quando ela a apanhou, o seu eixo bateu-lhe na palma da mão macia, fazendo com que ela sentisse a madeira áspera. A lança era menor das que talvez fossem usadas numa verdadeira batalha, mas ainda tinha tamanho suficiente para lançar através dos fossos a sua cabeça em forma de folha.
"Vou fazer-te em pedaços", prometeu o lorde de combate, percorrendo a borda à volta.
Com um adversário tão forte, pensava Ceres, a sua melhor esperança era tentar cansá-lo. Quanto tempo conseguiria alguém tão enorme continuar a lutar? Ceres já sentia os seus próprios músculos a arderem-lhe e o suor a escorrer-lhe pelo rosto. Seria pior para o lorde de combate que ela enfrentava?
Era impossível ter a certeza, mas tinha de ser a sua melhor esperança. Então, ela esquivou-se e golpeou usando o comprimento da lança da melhor maneira que conseguiu. Ela conseguiu escapar-se por entre as defesas do enorme guerreiro, apesar de a lança apenas ter tinido da armadura dele.
O lorde de combate deu pontapés na poeira em direção aos olhos de Ceres, mas ela virou-se a tempo. Ela rodopiou para trás e atirou a lança baixa, em direção às pernas desprotegidas dele. Ele saltou, desviando-se daquele lançamento, mas ela conseguiu fazer-lhe outro ferimento ao longo do seu antebraço ao desembainhar novamente a lança.
Ceres, agora, incitava com golpes baixos e altos, apontando para os membros do seu oponente. O grande homem atacava e bloqueava, tentando encontrar uma maneira para além da ponta de ataque, mas Ceres mantinha-o em movimento. Ela golpeou em direção ao seu rosto, na esperança, pelo menos, de o conseguir distrair.
O lorde de combate apanhou a lança. Ele agarrou a lança por trás da cabeça da mesma, puxando-a para a frente e desviando-se. Ceres teve de a largar, porque ela não queria correr o risco de ser puxada na direção da espada do homem grande. O seu oponente partiu a lança com um joelho, tão facilmente quanto poderia ter partido um galho.
A multidão vibrou.
Ceres sentiu um suor frio pela sua espinha. Por um instante, ela imaginou o homem grande a partir o seu corpo com a mesma facilidade. Ela engoliu em seco só de pensar e preparou a sua espada novamente.
Quando os golpes seguintes vieram, ela agarrou o punho da espada com ambas as mãos, porque era a única maneira de absorver um pouco da força dos ataques do lorde de combate. Mesmo assim, era incrivelmente difícil. Cada golpe parecia como se ela fosse um sino a ser atingido por um martelo. Cada um enviava ondas de choque que lhe percorriam os braços.
Ceres já se sentia cansada com os ataques. Cada respiração era irregular, parecendo que respirava à força. Não havia dúvida agora sobre tentar contra-atacar, ou fazer qualquer coisa, que não fosse recuar e ter esperança.
E então aconteceu. Lentamente, Ceres sentiu o poder a crescer dentro de si. Vinha acompanhado de um calor, como as primeiras brasas de uma fogueira. Instalou-se na sua barriga, à sua espera. Ceres agarrou-o.
A energia percorreu-a. O mundo desacelerou, movendo-se como se a rastejar, e, de repente, ela sentiu que tinha todo o tempo do mundo para aparar o próximo ataque.
Ela tinha toda a força, também. Ela bloqueou o ataque facilmente e, em seguida, oscilou a espada ao redor e golpeou o braço do lorde de combate num ápice.
"Ceres! Ceres!", gritava a multidão.
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