— Seu pai é bestial.
Ele era um idiota arrogante que importunava George sempre que podia. Charles desejava poder encontrar uma maneira de remover o Duque de Southington da vida de seu amigo. Infelizmente, não dependia dele, retirar George do controle de seu pai. Seu amigo teria que encontrar a coragem para fazer isso sozinho. Era a única maneira de ele saber como era ser livre para tomar suas próprias decisões.
— Eu tenho novidades. — começou Charles. — Comprei o prédio necessário para o Clube Coventry.
— Você comprou? — Seu rosto se iluminou com a felicidade. — Isso é maravilhoso. Agora você pode alcançar seus objetivos e todos teremos um lugar para escapar da realidade da vida.
— Vou ter que discernir as regras do clube antes de convidar novos associados. Gostaria que você fosse o primeiro administrador do clube, se quiser.
Ele queria que George tivesse a responsabilidade, assim se sentiria incluído, e isso daria a ele outra coisa para se concentrar além do terror que seu pai era.
— Eu? — George perguntou surpreso. — Você não quer administrar seu próprio clube?
— Eu prefiro aproveitá-lo no começo. Um dia, assumirei as funções, mas gostaria de experimentar primeiro. Você é muito mais equilibrado do que eu e poderá aplicar as regras que elaborarmos em prática. Eu acho que a primeira regra será: o administrador do clube é o único que pode ser casado. Não quero que um bando de maridos traidores leve suas amantes ao clube.
— Então, quando se casarem, terão que entregar a sua chave? — Perguntou George. — Isso não é uma má ideia. Então, você não vai assumir o controle até encontrar uma noiva? Isso vai demorar bastante, não?
Charles sorriu.
— Sei que um dia terei que me casar com alguém, mas você está correto, não pretendo encontrar uma dama para me casar nos próximos anos. Dependerei de você para manter as coisas funcionando sem problemas até então. Mas não é um requisito ser casado para manter essa posição. Se você achar que é muito difícil, eu posso assumir. Se eu me casar antes disso, terei que assumir o controle.
— Sim — George concordou. — Isso faz sentido.
Ele assentiu para Charles.
— Tudo bem, eu administro o seu clube. — Seus lábios se inclinaram para cima em outro sorriso. — Mal posso esperar para começar.
Charles pegou o copo e acenou para o amigo.
— Já começamos, meu amigo. Agora vamos beber ao seu novo filho.
— Essa é uma ideia fabulosa — respondeu George. Ele pegou o copo e bateu com o de Charles. — E ao seu futuro clube. Será tão bem sucedido quanto você imaginou.
Os dois beberam o conteúdo de seus copos e Charles os encheu novamente de conhaque. Beberam vários copos antes de George sair. Eles já tinham todas as regras do clube estabelecidas então e o futuro do Clube Coventry seria uma realidade em breve. Charles adorava quando um bom plano era concretizado.
Abril 1800
Lady Abigail Wallace olhou para o vestido branco insípido e franziu o cenho. A única cor que fora autorizada a usar era uma faixa safira amarrada em volta da cintura. Isso fez pouco para tornar seu vestido mais atraente. Pelo menos a cor da faixa combinava com seus olhos, o branco fazia sua pele parecer quase doentia. Ela tinha pele clara e uma pitada de sardas no rosto. Ninguém a confundiria com uma fada inglesa, especialmente com seus intensos cabelos ruivos.
Por que deixou seu pai convencê-la a participar de uma temporada em Londres? Não havia nada que pudessem oferecer a ela que não encontraria em casa, na Escócia. O que havia de errado em encontrar um bom Laird escocês como marido? A propriedade de sua família ficava nas Terras Baixas e seu pai se identificava mais com os irmãos ingleses do que com os escoceses, mas Abigail preferia ter se arriscado em Edimburgo.
— Pare de se mexer — sua irmã, Belinda, sussurrou baixinho. Seu sotaque escocês evidente, mesmo no tom baixo que ela falou. — Ninguém nos pedirá para dançar com o seu comportamento.
Ela queria responder que isso a faria feliz. Nenhum dos cavalheiros chamara a sua atenção. Tudo o que ela queria era sobreviver à temporada e ir para casa. Quando voltasse solteira, seu pai teria que concordar com uma temporada em Edimburgo. Ele queria que sua filha mais velha se casasse, afinal. Belinda, ele permitiria várias temporadas. Ela era uma verdadeira beleza e teria muitos pretendentes.
Sua irmã tinha um lindo cabelo loiro e olhos azuis claros. Ela parecia mais uma dama inglesa e nada como Abigail. Onde Belinda herdou a aparência da mãe inglesa, Abigail recebeu o cabelo avermelhado do pai. Isso não foi tudo o que herdou dele, seu temperamento era resultado direto de seu sangue escocês. Ela nunca se encaixaria nessa sociedade educada. Abigail não gostava de tolos, e a maioria dos almofadinhas presentes se encaixavam nessa descrição.
— Não precisa se preocupar, querida irmã — começou Abigail. — Há muitos cavalheiros mantendo os olhos em você. Não demorará muito para que alguém seja corajoso o suficiente para pedir uma dança.
Isso era verdade também. Vários cavalheiros estavam olhando na direção delas, mas seus olhares sempre ficavam um pouco mais em Belinda. Abigail completou vinte e um anos antes de partirem para a temporada em Londres. Belinda era três anos mais nova que ela. Ambas já deveriam estar noivas, mas quando a mãe morreu, o pai relutou em vê-las partir. Agora, ele estava determinado a encontrar um marido para elas, como deveria ser, na opinião dele. Abigail queria lhe dizer onde ele poderia colocar suas ideias sobre casamento, e esse não era um lugar agradável.
— Talvez — sua irmã concordou. — Se você parasse de encará-los, eles fariam um esforço. — Sua irmã olhou para ela com uma carranca em seu lindo rosto. — Você pode não querer se casar com um cavalheiro de recursos, mas eu sim. Não tire isso de mim.
Uma comoção se agitou no salão lotado e todos se voltaram para a escada na entrada. Alguém importante devia estar chegando para fazê-los parar e encarar as escadas com antecipação. Abigail desejou poder dizer que não se importava, mas sua curiosidade levou a melhor. Quem poderia estar chegando para atrair tanta atenção? Muitas das mulheres começaram a sussurrar atrás dos leques e quase gritavam de emoção. O próprio Príncipe Regente estaria aqui? Nada mais faria sentido para ela.
Um dos criados de Loxton abriu as portas acima da longa escadaria e anunciou: — O Conde e Condessa de Harrington.
Um homem alto de cabelos escuros e uma bela mulher etérea de cabelos loiros prateados desceram as escadas. Então, um homem seguiu atrás deles. Aquele homem chamou sua atenção. Ele era bonito, se um homem pudesse ser descrito como tal. Não classicamente bonito, mas de um jeito que a deixou sem fôlego.
Ele tinha maçãs do rosto salientes e os lábios mais beijáveis que ela já avistou em um homem de boa família. Seus cabelos escuros eram da cor de um céu da meia-noite e ela ficou curiosa com o tom dos seus olhos. O homem não tinha sido anunciado, mas parecia ser ele, o que todos estavam esperando. Eles prenderam a respiração enquanto ele seguia atrás do conde e da condessa. Quem era ele?
— Oh, ele é adorável — sua irmã praticamente sussurrou as palavras. — Quem você acha que ele é?
— Eu não faço ideia — disse ela. Suas palavras saíram tão ofegantes quanto as da sua irmã. — Talvez devêssemos descobrir.
— Como? — Belinda levantou uma sobrancelha. — Nós não temos conexões a quem perguntar e nossa acompanhante não será de muita ajuda.
Ela apontou para a matrona que os acompanhava, roncando em um sofá próximo, alheia ao que suas encarregadas estavam fazendo. Não que Abigail e Belinda tenham feito muito, ninguém lhes pediu para dançar ou realmente tentou falar com elas. Eram debutantes no início de sua estreia na sociedade. Ela odiava ter que contar a Belinda, mas não sairiam daqui com maridos. Belinda ainda tinha a melhor chance, talvez Abigail devesse ficar em casa na próxima vez e os pretendentes ficariam mais confortáveis para se aproximarem de sua irmã.
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