Talvez ele estivesse me esperando. Demorei muito para seguir as pistas. Agora eles se foram novamente.
Se Watson já tivesse telefonado para fazer a falsa denúncia, a polícia estaria no motel em minutos, e Strickland provavelmente já estava em um helicóptero. Ainda assim, Reid se recusou a sair sem algo para continuar, ou então tudo teria sido por nada, apenas mais um beco sem saída.
Ele correu para o escritório do motel.
O tapete era verde e áspero sob as botas, fazia lembrar grama sintética. O lugar fedia a fumaça de cigarro. Do outro lado do balcão, havia uma porta escura e, atrás dela, Reid podia ouvir algo tocando em volume baixo, um rádio ou uma televisão.
Ele tocou a campainha de serviço no balcão, uma campainha dissonante soando no escritório silencioso.
— Hmm. — Ele ouviu um grunhido suave da sala dos fundos, mas ninguém apareceu.
Reid tocou a campainha novamente três vezes em rápida sucessão.
— Tá certo, cara! Jesus — uma voz masculina. — Estou indo — um jovem saiu dos fundos. Ele parecia estar na casa dos vinte ou trinta anos; era difícil para Reid dizer, por causa de sua pele ruim e olhos avermelhados, que ele esfregou como se tivesse acabado de acordar de uma soneca. Havia uma pequena argola de prata em sua narina esquerda e seu cabelo loiro sujo estava preso em dreadlocks de aparência sarnenta.
Ele olhou para Reid por um longo momento, como se estivesse irritado com o próprio conceito de alguém ter entrado pela porta do escritório.
— Ah? O quê?
— Estou procurando por informações — disse Reid categoricamente. — Tinha um homem aqui recentemente, caucasiano, cerca de trinta anos, com duas adolescentes. Uma de cabelos castanhos e outra mais jovem, loira. Ele dirigia aquele SUV branco ali. Eles ficaram no quarto nove...
— Você é um policial? — o funcionário interrompeu.
Reid estava ficando rapidamente irritado.
— Não. Eu não sou policial. — Ele queria acrescentar que era o pai dessas duas garotas, mas conteve-se; não queria que esse funcionário o identificasse mais do que ele já podia.
— Olha, mano, eu não sei nada sobre garotas adolescentes — insistiu o funcionário. — O que as pessoas fazem aqui é assunto delas...
— Eu só quero saber quando ele esteve aqui. Se você viu as duas garotas. Eu quero o nome que o homem te deu. Quero saber se ele pagou em dinheiro ou cartão. Se for cartão, quero os últimos quatro dígitos do número. E quero saber se ele disse alguma coisa, ou se você ouviu alguma coisa, isso pode me dizer para onde ele foi depois daqui.
O funcionário olhou para ele por um longo momento e então soltou uma risada rouca e estridente.
— Amigo, olhe ao seu redor. Este não é o tipo de lugar que pede nomes ou cartões de crédito ou algo assim. Este é o tipo de lugar em que as pessoas alugam quartos por hora, se é que você me entende.
As narinas de Reid se alargaram. Ele já estava quase o farto dessa bobagem.
— Deve haver algo, qualquer coisa, você possa me dizer. Quando eles fizeram o check-in? Quando eles saíram? O que ele lhe disse?
O balconista lançou-lhe um olhar aguçado.
— Quanto vale para você? Por cinquenta dólares, eu direi o que você quer saber.
A fúria de Reid acendeu como uma bola de fogo quando ele alcançou o balcão, agarrou o jovem atendente pela camiseta e o puxou para frente, quase o erguendo do chão.
— Você não tem ideia do que está me impedindo de fazer — ele rosnou na cara do garoto. — Ou o quão longe vou para conseguir isso. Você vai me dizer o que eu quero saber ou estará se alimentando por um canudo num futuro próximo.
O recepcionista levantou as mãos, os olhos arregalados quando Reid o sacudiu.
— Tá certo, cara! Tá certo! Tem um registro embaixo do balcão... Deixe-me pegar e vou olhar. Vou te dizer quando eles estiveram aqui. Tudo bem?
Reid suspirou e soltou o rapaz. Ele tropeçou para trás, alisou a camiseta e depois pegou algo que não pôde ver embaixo do balcão.
— Um lugar como esse — o funcionário disse lentamente. — O tipo de pessoa que recebemos aqui... Eles valorizam sua privacidade, se é que você me entende. Eles não se importam muito com as pessoas bisbilhotando. — Ele deu dois passos lentos para trás, retirando o braço direito de baixo do balcão... Enquanto segurava a coronha marrom escura de uma espingarda de calibre 12.
Reid suspirou tristemente e balançou a cabeça.
— Você vai desejar não ter feito isso. O balconista estava desperdiçando seu tempo para proteger canalhas, como o Rais - não que ele soubesse no que Rais estava envolvido, mas outros tipos sórdidos, cafetões, traficantes e afins.
— Volte para a sua vizinhança de classe média, cara. — O cano da espingarda estava apontado para seu peito, mas o jovem estava trêmulo. Reid teve a impressão de que o garoto já havia usado a arma para ameaçar, mas nunca, de fato, atirou antes.
Não havia dúvida de que Reid tinha o saque mais rápido do que o funcionário; ele nem hesitaria em atirar nele, no ombro ou na perna, se isso significasse conseguir o que precisava. Entretanto, não queria dar um tiro. O som seria ouvido a 800 metros de distância no parque industrial. Pode assustar quem quer que sejam os hóspedes no motel - pode até levar alguém a ligar para a polícia e ele não precisa dessa atenção.
Em vez disso, ele adotou uma abordagem diferente.
— Você tem certeza que essa coisa está carregada? — ele perguntou.
O balconista olhou para a espingarda por um segundo incerto. Naquele momento, com o jovem desviando o olhar, Reid colocou a mão firmemente no balcão e saltou sobre ele facilmente. Ao mesmo tempo em que atacou com a perna direita e chutou a espingarda das mãos do balconista. Assim que seus pés tocaram o chão, ele se inclinou para frente e enfiou o cotovelo no nariz do garoto. Um suspiro agudo saiu da garganta do funcionário quando o sangue escorreu de ambas as suas narinas.
Então, apenas por via das dúvidas, Reid pegou um punhado de dreadlocks imundos e bateu o rosto do rapaz no balcão.
O funcionário caiu no tapete verde áspero, gemendo cuspindo sangue no chão pelo nariz e pelos dois lábios rachados. Ele gemeu e tentou se apoiar nas mãos e nos joelhos.
— Você... Oh, Deus... Você quebrou meu nariz, cara!
Reid pegou a espingarda.
— Essa é a menor das suas preocupações agora.
— Ele pressionou o cano nos dreadlocks loiros sujos.
O funcionário imediatamente caiu de bruços e choramingou.
— Não... Não me mate... Por favor, não... Por favor... Não me mate...
— Me dê seu telefone.
— Eu não... Eu não tenho um...
Reid se inclinou rapidamente deu um tapinha no jovem. Ele estava sendo honesto; não tinha telefone, mas tinha carteira. Reid abriu e conferiu a carteira de motorista.
— George — Reid riu. O balconista não se parecia muito com um George. — Você tem um carro aqui, George?
— Eu tenho, tenho uma moto suja, estacionei nos fundos...
— Bom o bastante. Vou te dizer o que vai acontecer, George. Eu vou pegar sua moto. Você, você vai sair daqui. Ou correr, se preferir. Você vai ao hospital dar um jeito no seu nariz. Você vai dizer a eles que levou um soco num bar. Você não vai dizer uma palavra sobre este lugar, ou uma palavra sobre mim. — Ele se inclinou e abaixou a voz. — Porque eu tenho um rádio da polícia, George. E se eu ouvir alguma menção, mesmo uma palavra sobre um homem que se encaixa na minha descrição, eu irei até o... — Ele verificou o documento de identificação novamente. — Apartamento 121B na Cedar Road e eu vou levar sua espingarda comigo. Você entendeu?
— Eu entendi, entendi... — o balconista chorou, sangue e saliva caindo de seus lábios. — Entendi, prometo que entendi.
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