Daniel assumiu o comando. "Não, desculpe, querida. Você precisa chegar na hora para conhecer sua nova professora e novos colegas".
Chantelle baixou a chave de fenda com um suspiro relutante. "Tudo bem".
Emily desejou poder convencer Chantelle a fazer seu trabalho oleoso em algum lugar mais apropriado — a garagem, ou no barracão, ou praticamente em qualquer lugar que não fosse a mesa da cozinha. Mas Chantelle não ia querer. Seu avô consertava relógios na mesa da cozinha, então, Chantelle queria fazer igual!
Todos se dirigiram para a picape e Daniel assumiu a direção, já que Emily estava achando muito desconfortável encaixar sua barriga cada vez maior atrás do volante. Chantelle pulou no banco de trás do carro.
"Mal posso esperar até que Charlotte venha conosco para a escola", disse ela, olhando para a cadeirinha de bebê que haviam instalado recentemente (por recomendação de Amy, é claro, já que nunca se sabe quando o bebê pode decidir nascer e a última coisa que você vai querer fazer é tentar instalar uma cadeirinha complicada durante as contrações).
"Eu também", disse Emily, descansando as mãos sobre sua barriga volumosa. Parecia estar ficando mais desconfortável a cada dia que passava.
"Primeiro, ela só estará passeando, mas não demorará muito para ela entrar por aquelas portas com você", disse Daniel, com uma risada. "Ela vai estar no jardim de infância num instante".
Emily se sentiu melancólica ao pensar nisso. Ela sabia o que Daniel queria dizer, que o tempo passava rapidamente, que eles deveriam apreciar cada momento, porque desapareceria como a areia passa por uma ampulheta. Mas o futuro ao qual Daniel estava se referindo era também um em que o pai dela já teria falecido. Ele não estaria lá quando Charlotte começasse o jardim de infância. Ele nunca iria ver as numerosas fotos que Emily tiraria das duas meninas indo para a escola juntas, de mãos dadas. Esse futuro, embora ela estivesse ansiosa para viver, por um lado, também seria repleto de pesar, por outro. Ela seria uma pessoa diferente, mudaria irremediavelmente ao perder Roy.
Eles dirigiram pelas conhecidas ruas de Sunset Harbor e entraram no estacionamento da escola. Já estava muito movimentado, com muitos pais ansiosos para deixar seus filhos depois das longas férias de verão.
"É Bailey!" Chantelle gritou, apontando para onde sua melhor amiga brincava na grama. O cabelo ruivo normalmente rebelde de Bailey tinha sido estilizado em duas longas tranças. Emily nunca a tinha visto tão apresentável. "Mas com quem ela está conversando?" acrescentou Chantelle.
Bailey estava brincando com uma criança desconhecida, uma garota pálida e magra, com longos cabelos lisos e loiros.
"Eu não sei", disse Emily. "Eu nunca a vi antes".
Daniel estacionou e eles saíram da caminhonete. Emily notou Yvonne encostada em sua 4x4, conversando com Holly, outra das mães que eles conheciam bem.
"Por que você não vai dizer olá", Daniel disse a ela. "Eu posso supervisionar Chantelle e falar com a professora".
Emily deliberou. Ela queria conhecer a nova professora, mas sentiu um desejo de se reconectar com as amigas, cuja companhia havia perdido no verão.
"Eu vou ser super rápida", ela disse a ele, com uma mão já abrindo a porta do passageiro.
Daniel riu e foi em direção aos degraus onde todos os professores estavam reunidos, supervisionando a sessão de brincadeira matinal.
Emily foi até Yvonne e deu um grande abraço na amiga. Então, também abraçou Holly.
"Como passaram o verão?" Emily perguntou.
Holly corou. Yvonne parecia estar segurando um sorriso.
"Foi ótimo", Holly disse a Emily. "Logan e eu levamos as crianças para Vancouver, para visitar a família".
"E..." Yvonne pressionou.
Emily franziu a testa, olhando de uma mulher para a outra.
"E..." Holly disse, ainda mais ruborizada. "Eu estou grávida".
Os olhos de Emily se abriram mais. "Você está brincando!" exclamou ela.
Holly sacudiu a cabeça. Ela parecia tímida, mas emocionada.
"Estou tão feliz por você!", Emily exclamou, abraçando-a novamente. "Nossos bebês poderão brincar juntos".
"Com Robin", acrescentou Holly, referindo-se ao novo filho de Suzanna, que tinha apenas dois meses de idade.
"Eles podem formar uma pequena gangue", Emily acrescentou, com uma risada.
Yvonne fez beicinho então. "Ah, eu estou com inveja. Eu gostaria de ter outro".
"Foi planejado?" Emily perguntou Holly. "Você está corando como se não tivesse sido!"
"Não", Holly disse a ela. "Foi uma surpresa. Bem-vinda, mas Minnie ainda não tem nem um ano, então não achamos fosse possível! Mas, em Vancouver, as crianças passaram muito tempo com nossos parentes e pudemos descansar e sair só nós dois e, bem, uma coisa levou a outra".
Todo mundo riu. Emily sentiu-se feliz por ter novamente a companhia de algumas de suas amigas da escola. Embora Yvonne fosse uma das melhores amigas dela, e Suzanna em menor escala, o círculo mais amplo de amigos pais era muito dependente do contexto. Ela percebeu então que havia perdido a companhia deles, que sentia falta de ter pessoas para compartilhar as provações e tribulações da maternidade.
"Olhem para a minha pequena Bailey", disse Yvonne então, desviando o olhar para o parquinho. "Ela está mantendo a menina novata sob sua asa".
Emily olhou para o parque e viu as duas zunindo pelo playground. Chantelle, percebeu, não estava brincando com elas. Em vez disso, estava com os meninos, Toby, Levi e Ryan, participando de um tipo de jogo muito mais áspero e caótico. Ela se perguntou por que não estavam brincando todos juntos.
Yvonne sussurrou: "Mas eu espero que ela não a convide para brincar lá em casa". Eu conheci a mãe esta manhã. Ela é tão azeda quanto a filha. E o nome da menina é Laverne".
Emily não pôde deixar de rir. Era tão bom conversar novamente com suas amigas que também eram mães, de volta aos portões da escola. Da última vez que havia feito isso, tudo ainda era novo e estranho. Chantelle apareceu do nada e mudou completamente a vida de Emily. Mas ela não mudaria nada agora. Tornar-se mãe tinha sido a melhor experiência de sua vida, e ela amava as sensações, as oportunidades que isso lhe dava, e as pessoas que conhecera no processo.
Ela viu Suzanna se aproximando com o bebê Robin amarrado ao peito num sling, com seus pezinhos balançando a cada passo que ela dava. Logo, seria Emily, ela percebeu, seu coração tornando-se maior ao pensar nisso, com animação, mas também por causa da ansiedade. Charlotte ia mudar tudo de novo, assim como Chantelle mudara. E Roy não estaria lá para ajudá-la ao longo do processo. Mas, enquanto olhava de Suzanna para Yvonne e para Holly, sabia que tinha as melhores pessoas do mundo ao seu lado, para lhe dar apoio. Ela podia fazer isso. Podia fazer qualquer coisa com o apoio de suas amigas.
Ela percebeu então que tinha ficado tão absorvida em recuperar o atraso com suas amigas que perdeu a noção do tempo.
"É melhor eu ir conhecer a nova professora", disse ela, virando-se para a escada.
Mas no mesmo momento em que fez isso, notou Daniel se aproximando. Ele estava olhando para o relógio com uma expressão de alarme.
"Daniel!" Yvonne gritou, com entusiasmo.
"Olá a todos", disse ele, aproximando-se do grupo de mães. "Sinto muito, mas não posso parar para conversar, tenho que começar a trabalhar". Ele se virou para Emily. "Ainda quer uma carona até o Joe?"
"Posso me apresentar à professora primeiro?" Emily perguntou.
Daniel olhou para o relógio, tenso. "Hum..., bem..." ele disse, parecendo um pouco confuso.
Emily podia sentir que ele estava obviamente ansioso para causar uma boa impressão em sua nova posição no trabalho, após a promoção. Ela decidiu deixar pra lá e não criar confusão.
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