Virginie T. - Dance, Meu Anjo

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** Português do Brasil **
Romance paranormal entre uma humana em perigo e um anjo.
Caitlyn é a atração principal do American Ballet Theatre em Nova York há vários anos.
Solitária e retraída, sua vida gira em torno da dança e sua maior admiradora não é outra senão a sua avó.
Tudo muda quando alguém começa a assediá-la. Quem poderia ser e com que finalidade? Sua avó está pronta para fazer qualquer coisa para protegê-la, inclusive colocá-la no caminho de seu misterioso vizinho Baraqiel.

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Ah, sim. A famosa refeição em família! Aquela que só acontece na noite das minhas estreias e que agora é o único contato que tenho com meus pais. No entanto, apesar de nossa total falta de contato no resto do ano, não tenho absolutamente nada a lhes dizer, ou melhor, não consigo conversar com eles, e, portanto, este jantar logo se transforma em uma refeição silenciosa e desconfortável, onde minha avó luta por duas horas para recriar laços de família que nunca existiram de verdade. Estou tão encantada com essa ideia quanto com a possibilidade de deixar o meu lugar como dançarina principal para Agatha.

— Você é muito mais expressiva do que pensa, Caitlyn Cat. Não fique assim, querida. Esta refeição é importante para nossa família.

— Se a senhora fala…

— Tudo bem. Significa muito para mim. Quero reunir meu filho e minha neta.

Esses olhos suplicantes… Durante muito tempo quis tê-los. Sem dúvida, teriam mudado a minha vida!

— A senhora é uma manipuladora, vovó. Só preciso me trocar e estarei pronta.

— Você é a melhor neta do mundo.

— Não tenho dúvidas disso.

Ela para antes de sair, para me entregar um envelope que havia sido colocado embaixo da porta. Eu o agarrei com as mãos trêmulas. Comecei a temer os mensageiros.

— E Cat, coloque um vestido bonito, por favor. Não quero ver sua mãe se descontrolando se você aparecer com jeans rasgados como da última vez.

Ver o rosto dela naquele momento definitivamente valeu a pena. No entanto, não tenho ânimo para sorrir. Abro o envelope vermelho-sangue, sabendo de antemão o que ele contém. Todas as cartas de ameaças que recebi eram idênticas a esta. De imediato reconheço a escrita cheia de raiva que está no papel. É rude e violenta, tanto nas palavras como no traçado, tão brusco e com tanta pressão, que perfura a folha graças à virulência dos gestos.

“Você não me ouviu. Eu disse que você é minha e a proibi de mostrar seu traseiro em um saiote para todo mundo ver. Você deveria ter tomado jeito quando teve a chance, em vez de se tornar uma prostituta. Agora, sou eu quem está no comando. Você só vai dançar para mim. Vou buscá-la.”

Minha respiração está ofegante e entrecortada, e minhas mãos estão tremendo tanto que a folha cai no chão. É a primeira vez que o homem escreve sobre a intenção de vir me ver, porque é um homem, sem dúvida. As primeiras cartas que chegaram me lembravam um fã um pouco possessivo demais. Ele havia relatado, em suas cartas, a vida de casal que imaginou para nós, com muitos comentários lascivos. Com o tempo, as descrições se tornaram mais ríspidas e as palavras, mais ameaçadoras. Ele foi de “você será minha de todas as maneiras” para “vou empalar você com meu pau e fodê-la até que grite de dor”. Ele também me culpa por minha falta de reação e envolvimento em nosso relacionamento. Que vida de casal? Não conheço ninguém estranho o suficiente para inventar algo tórrido comigo. A maneira como ele me imagina deixa claro que não nos conhecemos. Aparentemente, ele decidiu remediar esse detalhe. Tiro meu celular da bolsa, tentando recuperar o controle sobre mim mesma. Como as cartas se tornaram uma fonte de ansiedade, eu as encaminho ao diretor do balé, que entrou em contato com a polícia. Infelizmente, até aquele momento os inspetores não têm pistas e, segundo eles, não há motivo para preocupação. Parece que a maioria dos perseguidores anônimos nunca age. E quanto aos outros? Não recebi nenhuma resposta. Parece que estou paranoica. Tudo bem, estou um pouco. Digamos que tenho uma tendência natural para extrapolar tudo. Mas é hora de acabar com essas cartas.

— Caitlyn! Você foi fabulosa. A reação dos espectadores é muito boa.

— Obrigada, senhor, mas não estou ligando para isso.

Eu o ouço suspirar no aparelho. Ele também não gosta muito de mim. Ele me apoia porque sou útil para ele. Rendo-lhe muito dinheiro e ele se sente compelido a se esforçar comigo.

— O que posso fazer por você?

— Recebi uma nova carta.

— Já conversamos sobre isso. Você precisa esquecer isso e jogá-las fora sem abri-los. Este homem nunca entrará em ação.

— Na verdade, recebi uma na minha casa e alguém colocou outra no meu camarim.

O silêncio que se segue me tranquiliza. Finalmente, talvez eu possa ser levada a sério.

— Deixe-as na segurança quando sair do teatro. Vou mandá-las para a polícia.

— Obrigada, senhor.

— De nada, Caitlyn. Aproveite a sua noite. Você merece. A gente se vê amanhã para falar sobre a investigação.

— De acordo. Até logo.

Estou aliviada com esta ligação. Só espero que essas novas cartas possam fazer a investigação avançar. Já estou com medo suficiente do mundo ao meu redor sem precisar acrescentar o medo de um psicopata.

Eu me arrumo rapidamente. Não que eu esteja com pressa para encontrar meus pais, mas mal posso esperar para me livrar dessas cartas malditas que não suporto ver na minha penteadeira. Deixo o teatro após uma última olhada no espelho, entregando as mensagens na segurança.

Capítulo 3

Caitlyn

Meus pais não mudaram nem um pouquinho. Meu pai ainda tem seu cabelo grisalho despenteado e olhos azuis penetrantes, os mesmos que os meus, e minha mãe está impecavelmente vestida em seu conjunto austero e com um coque sem um fio fora do lugar. A maneira como me olham não é diferente de quando eu era pequena. Como se eu fosse um alienígena impossível de decifrar.

— Obrigada por nos honrar com sua presença, Caitlyn. Você demorou tanto para nos encontrar! Você sabe, porém, que sua mãe não pode ficar em pé muito tempo.

Minha mãe tem, de fato, alguns problemas nos joelhos por causa de disfunções nas articulações, mas só dói no frio e na chuva, e o céu está incrivelmente claro esta noite.

— Olá, papai. O tempo está incrivelmente ameno para a estação, não acha? Até conseguimos distinguir as estrelas.

— Não seja atrevida, Caitlyn.

Oh, sim. Meus pais estão sempre unidos, especialmente contra mim. Minha avó intervém antes que o jantar acabe. Acabe antes do tempo, com certeza, já que nem chegamos ainda ao restaurante.

— Vamos comer. Estou faminta.

Vovó põe o braço sob o meu e caminhamos pela calçada, em silêncio, à frente de nosso pequeno cortejo. Tenho a desagradável sensação de estar sendo observada. Como se um olhar queimasse minhas costas, causando suores frios na minha espinha. Poderia achar que era por causa da presença dos meus pais; no entanto, eles nunca me causaram uma reação tão epidérmica. Estremeço ao examinar os arredores, mas o luar fraco e os poucos postes de luz dispersos não me permitem distinguir bem a vizinhança, no máximo criando sombras perturbadoras à meia-luz.

— Está com frio, querida?

— Não, vovó. Estou bem. Mal posso esperar para chegar em casa. Estou cansada.

Não contei à minha avó sobre as cartas. Não queria que ela se preocupasse comigo. Ela leva uma vida tranquila e está fora de questão que isso venha a mudar.

— Quando você vai me visitar na Virgínia? O ar puro e o campo lhe fariam muito bem.

— Não tenho dúvidas, vovó, mas a temporada está apenas começando e as apresentações da Bela Adormecida continuarão por várias semanas.

— E, depois, haverá as seleções para um novo balé, que você vai ter sucesso em ganhar, é claro, depois os ensaios para o novo espetáculo e as apresentações mais uma vez. Isso nunca cessa, Cat.

Curvo a cabeça, com vergonha de ser uma neta tão má. Essas observações são totalmente justificadas.

— Lamento desapontá-la, vovó.

Ela se detém tão abruptamente para me encarar que meus pais nos atropelam.

— Você nunca irá me decepcionar, Caitlyn Cat. Você me escutou? Sou extremamente orgulhosa de você, e seus pais também.

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