Em 1730 é denunciado um escândalo pelo Rev. Mather o qual queixou-se de um “deplorável hábito” em Massachussetts Bay Colony onde, na noite de Natal, a gente “jogava cartas, passava o tempo fazendo borga na mesa e entoavam “vulgaríssimos cantos sobre o nascimento de Jesus!” Uma moda que afirmou-se cada vez mais e que, como em toda tradição que se respeita, tem os seus heróis nas pessoas umas centenas de menestréis que, nas barbas das leis inglesas, tinham coleccionado todas as canções populares sobre o Natal da pátria amada antes de desembarcar no novo continente e difundir o verbo! O hábito dos WAITS foi portanto não apenas revista mas pelo contrário melhor estruturada, com verdadeiras encenações teatrais que, no vaivém entre Inglaterra e América, voltou ao ponto de partida. Antes, a maior parte das velhas canções de Natal que ainda hoje, tipo Stille Nacht o What a Child is This? Foram escritas na segunda metade de 1700.
Nivelado o caminho, as grandes Potências adequam-se: em 1822 o deputado e histórico DAVIES GIBERT, publica uma antologia de Antigos Cantos Natalícios, seguindo a rota WILLIAM SANDYS, que publicita algumas canções históricas, como THE FIRST NOWELL o HARK the HERALD ANGELS SING. O golpe final foi dado depois em... época Vitoriana quando a puritaníssima Rainha que cobria por pudor as pernas das mesas com um saiote o teutónico e prestante Príncipe Albert.
Este era um cultor da Velha Música de Natal e dedicou-se para reorganizar as festividades desatando do nó da “celebração fúnebre” e devolver a elas o antigo fulgor. Nasceu daí um Natal em perfeito estilo laico que espalhou a mancha de óleo em todo o mundo, onde a gente não esperava outra coisa. Desde então ao lado dos Presépios e das árvores embelezadas para a Festa, as canções enriqueceram-se de novos simbolismos que marcam a mudança dos tempos. Entram em cena a neve, o visco, as renas e Santa Clausche, alcançado de mãos-cheias pelas tradições de Países únicos muitas vezes pouco conhecidos, tornam-se Património Público pelo menos no Natal.
A vaga das canções Natalícias tornou-se depois um verdadeiro business para o cinema, casas discográficas e televisões. Milhares de autores enriqueceram-se produzindo verdadeiros sucessos que nos fazem ainda chorar e sonhar, como WHITE CHRISTIMAS SONG.
Depois, como toda coisa, o movimento esgotou-se e o mercado mudou. Hoje tudo isto que ouvimos do Natal são simples reelaborações de canções do passado, e aquele pouco de novo que existe não faz história. As tradições enterram-se, as festividades reduzem-se a um árido comércio e a gente parece ter perdido também a vontade de cantar.
Por quê? Onde foi parar o Espírito do Natal? Quiçá, talvés perdemo-lo?
ROCKING AROUND THE CHRISTMAS TREE
Um Natal… moderno!
Começamos a nossa vista panorâmica sobre as canções mais belas dedicadas ao Natal com um trecho e com a melodia cativante, uma letra ligeira e um nome genialmente importante: Johnny Marks, um dos poucos compositores de canções Natalícias entrado directamente na Songwriters Hall of Fame.
Entre os anos ’30 e nos primórdios dos anos ’60 compor canções sobre o Natal era pouco mais menos uma profissão. Alguns autores especializavam-se neste ramo que, particularmente com a chegada da televisão, era muito seguido, publicitado e amado. Todos os anos dezenas de autores... Natalícios propunham às casas discográficas as próprias obras. Conseguir depois fazê-las gravar pelos cantores mais na moda era garantia de sucesso. A América, seja católica como protestante, sempre amou o Natal. Bing Crosby, que de canções gravou realmente tantas, tornou-se o preferido do público com White Christmas e graças à popular canção levantou voo no firmamento das stars. Entre os anos ’30 e nos primórdios dos anos ’40, época do swing, do jazz e do rock’ n roll ainda bebé, as canções sobre o Natal tinham um cunho espumoso, alegre e das sugestões dancing. Foi apenas de seguida, nos anos ’50, que assumiram uma coloração mais melódica e sugestiva, adequada a uma sociedade sonhadora perfeitíssima por isso o reviver dos bons sentimentos caracterizava um certo tipo de família tradicional. Todavia Rocking around the Christmas tree trouxe uma lufada de alegria e dinamismo, mesmo mantendo o chamamento à harmonia do lar doméstico muito caro à população Americana.
Eis a letra da canção.
Rocking around the Christmas tree
At the Christmas party hop
Mistletoe hung where you can see
Every couple tries to stop
Rocking around the Christmas tree,
Let the Christmas spirit ring
Later we’ll have some pumpkin pie
And we’ll do some caroling.
You will get a sentimental
Feeling when you hear
Voices singing let’s be jolly,
Deck the halls with boughs of holly
Rocking around the Christmas tree,
Have a happy holiday
Everyone dancing merrily
In the new old-fashioned way
FOTO 4. Eis a capa original do disco de 1958, com uma infantil e sorridente Brenda Lee. O disco, produto da Decca, teve um discreto sucesso. A cantora, na altura com treze anos, colocava-se na esteira do recem-nascido rock’n roll piscando todavia o olho à tradição do Natal na família. Permanecido a única intérprete do trecho durante 30 anos, a Lee foi retirada do pódio pela versão Kim Wilde/Mel Smith de 1987, que se posicionou no terceiro lugar nas Hit Inglesas do ano. Outra vez presente no imaginário colectivo a versão rock da então pudica Miley Cyrus, que em 2006 capturou a atenção de milhões de ouvintes.
E aqui está a tradução em italiano
Dançando em volta da árvore de Natal
Nas festas natalícias
O visco está pendurado ali onde vês,
cada casal procura beijar-se lá em baixo
dançando em volta da árvore.
Deixemos que o espírito do Natal se erga,
mais tarde comeremos um pouco de bolo de abóbora
e cantaremos uma certa ária de Natal.
E comover-te-á
Quando ouvires o coro a cantar “fiquem alegres!”
Daremos alegria as salas com a visqueira
E dançaremos em volta da árvore cantando
“Boas festas”!
E todos cantam felizes
Naquela forma antiga,
que é sempre novo!
Como podem ver uma letra que à primeira vista parece ligeira mas que apresenta umas partes interessantes. O termo rocking (dançando) introduz a novidade da sugestão rock, exactamente como já tinha sucedido numa outra canção de Natal talvés mais famosa: Jingle BellRock de Bobby Helms. A introdução do rock, mesmo privado da dureza característica, foi realmente uma novidade para o género das canções Natalícias e, estranhamente, resultou favoravelmente aceite pelas tradicionalíssimas gerações precedentes, que viam na alma do nascente rock um símbolo da degradação da sociedade. Magia do Natal?
Efectivamente a canção deixa-se logo “perdoar” sublinhando os temas fixados da tradição: o beijo em baixo do visco, as vozes alegres, o espírito do natal e... – toque do mestre! – A união velho-novo citando precisamente o refrão da famosíssima DECK THE HALLS, canção símbolo do americano médio mais adulto. O trecho foi composto por Johnny Marks em 1957 e confiada pela DECCA à então catorzinha Brenda Lee, que gravou-a duas vezes, em ’58 e em ’59. Parece que originariamente a canção tivesse tingido mais country e que depois tenha sido “cosido” nas peculiaridades canoras e interpretativas da Lee. Experiência muito bem sucedida se for a considerar que a gravação da Brenda Lee foi pois quase a única para esta canção.
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