—Que interessante.Parabéns aos dois.O sucesso com certeza virá.
—Obrigado.O que te traz nesta viagem?
—Tenho parentes em Cabrobó e pretendo ir visitá-los.Faço isso pelo menos uma vez por ano.
—Você mora com quem?
—Moro com meus pais e mais um irmão.E você?
—Com minha mãe adotiva.Minha mãe biológica morreu e meu pai perdeu minha guarda porque me batia muito.
—Ah,sinto muito.Imagino como deve ter sido difícil sua infância.
—Muito complicado mesmo.Mas sobrevivi.Agradeço a minha mãe e ao vidente por terem me apoiado tanto e acreditado em mim.
—Por falar nisso,ele está aqui?
—Sim.É este da poltrona da frente.
—Obrigada.Com licença.
Michelle Lopes se levantou,deu dois passos para frente e delicadamente bateu palmas diante do concentrado vidente engajado na leitura dum livro interessante.A contragosto,ele desviou sua atenção e a focou no rosto e silhueta marcantes de Michelle vestida com calça Jeans,blusa de algodão rosa e sandálias.Sorriu e gentilmente se comunicou.
—Sim.O que deseja moça?
—Meu nome é Michelle Lopes e conversando com um dos seus colegas tomei conhecimento de sua história.Poderia dar—me um abraço?
—Claro.Meu nome é Aldivan Teixeira Torres.Porém,também sou conhecido como vidente ou filho de Deus.Fique a vontade.
—Obrigada.
O vidente levantou-se,Michele se aproximou mais e com um passo adiante finalmente ocorreu o abraço.Aldivan emocionou-se com tanta amabilidade mostrada por uma desconhecida.Por isto ele não esperava e a cada instante que se passava o seu sonho de conquistar o mundo tornava-se mais palpável.
Findo o abraço,o vidente voltou a sentar e delicado que era retomou a conversa.
—Sente-se aqui,dona Michelle,conversemos um pouco pois ainda temos metade do percurso a percorrer.(Convidou o vidente)
—obrigada.Não irei incomodar?
—Que nada.De maneira nenhuma,á vontade.
Meio sem graça,Michelle assentiu e sentou-se.Como era magrinha,o espaço foi suficiente para a mesma.Na mesma hora,o vidente guardou o livro em sua mala a fim de prestar atenção a nova amiga.Por sorte,não acordaram Philliphe e então a conversa foi reiniciada.
—Renato me contou das peripécias de vocês.Conte-me,como é viver isso?
—Muito legal.Sabe,amo este mister.A cada nova missão concluída,sinto-me mais preparado para seguir em frente e vencer.
—Entendo.Sinto-me assim com a pedagogia,adoro crianças e é muito útil colaborar com seu desenvolvimento.
—Claro.Cada um faz parte para o engrandecimento e a evolução da sociedade.Você está de parabéns também.
—Obrigada.E o que é escrever para você?
—Algo natural como comer,estudar ou trabalhar.Uma das minhas faces.E para você,o que é lecionar?
—Uma paixão.Apesar dos grandes desafios que a educação nos impõe,é reconfortante.
—A literatura também é um desafio.Nasci num país sem muita tradição literária possuidor de um grande bolsão de pobreza e onde a média de livros lidos por ano é apenas um por pessoa.
—Caramba!E isto não te desestimula?
—De forma alguma.Quanto maior o desafio,maior é a minha vontade de vencer e direciono todos os esforços para isso.
—Muito louvável.Preciso aprender a ser também assim .O problema são os grandes obstáculos do caminho.
—Nem sempre fui assim.Isto é algo que se adquire somente com a experiência.Qual sua idade?
—Dezoito e você?
—Quase trinta e um.Está explicado.Terá tempo suficiente para aprender os caminhos do sucesso e da felicidade.
—Assim espero.O que vão procurar em Cabrobó?
—Vamos até o povoado chamado Travessia do deserto a fim de nos encontrar.Conhece?
—Nunca fui mas ouvi falar.Ótima escolha.Falam muito das suas propriedades mágicas e alguns o consideram sagrado.Boa sorte.
—Obrigado.
—Bem,vou voltar para meu canto.Muito prazer,Aldivan e sucesso em sua caminhada.
—Desejo o mesmo para você.
—Tchau.
Michelle levantou-se,cumprimentou o vidente com um beijo no rosto e se afastou. Volta para ao lado de Renato que já se encontrava chateado com sua ausência.A conversa volta a desenrolar-se entre os dois sobre vários assuntos enquanto o ônibus avança.Cabrobó se aproximava.
Aproximadamente meia hora depois,finalmente chegam.O ônibus para e todos descem com suas pesadas malas.Gentilmente, Michelle despede-se e só ficam os três mosqueteiros:Renato,o vidente e Philliphe.Juntos,vão ao ponto de lotação que ficava ao lado da rodoviária e contratam um dos carros.Colocam a bagagem na mala,cumprimentam o motorista,adentram no carro e finalmente a partida é dada.Rumo a travessia do deserto!
O curto trajeto de quinze quilômetros é percorrido com muita animação e energia por parte dos integrantes da viagem. Mais do que ansiosos estavam felizes com sua atitude desprendida diante da vida. E que novas emoções e conhecimentos viessem preencher suas almas sedentas.
O automóvel,uma van cor cinza, entra na rua principal do povoado e para exatamente em frente no centro, junto a uma praça. O trio desce,pega as malas,paga a passagem,despede-se do motorista e ali mesmo,no centro,localizam uma pousada.Com alguns passos,entram nela e mesmo sem ter reservado a estadia,conseguem alojamento junto á Dona do estabelecimento que se chamava Luíza para os três.Após acertar as bases,vão descansar da longa viagem.O que os aguardava nesta aventura instigante?Continuem acompanhando,leitores.
Duas horas depois, os viajantes acordam simultaneamente.Um por vez,levantam-se da cama,tomam banho,fazem um lanche na cozinha,escovam os dentes,reúnem-se e decidem iniciar a grande travessia que estava marcada nos seus respectivos destinos.A fim disso,arrumam as mochilas e saem da pousada . Juntando informações, contratam dois jovens experientes neste tipo de aventura.Chamam-se Rafael Potester e Uriel Ikiriri.
O grupo dirige-se ao grande deserto de Cabrobó com todos os aparatos necessários para passarem alguns dias naquele inóspito lugar.Seria possível?Mesmo parecendo loucura,os visitantes não pareciam se importar.Ao contrário,pareciam bastante animados.
No caminho até a entrada do deserto num total de oitocentos metros(800 m) aproveitam para se conhecer melhor e distrair um pouco da missão que era deveras complicada.Acompanhem alguns trechos.
—O que procuram exatamente no deserto?(Indagou Rafael)
—Viemos conhecer um pouco mais de nós mesmos e da força que nos comanda.(Resumiu o vidente)
—Queremos ainda auxiliar nosso amigo Philliphe em suas questões pessoais.(Complementou Renato)
—Entendi.(Rafael)
—E quais questões seriam?(Interessou-se Uriel)
—Quero curar meu desespero que se instalou desde que perdi minha família toda num acidente de carro.Quero entender o porquê de tudo isso e a melhor forma de agradar a Deus.(Explicou Philliphe)
—Complicado mesmo.É como diz o ditado,Deus escreve certo por linhas tortas e não cabe a nós julgar.Mas é interessante este questionamento,vão em frente.(Uriel)
—Podem contar conosco nesta grande aventura.Seremos seus anjos.(Prontificou-se Rafael)
—Ah,obrigado,vamos precisar mesmo.(Assentiu o vidente)
—Sinto-me mais tranqüilo.(Declarou Renato)
—Obrigado pelo interesse e estamos também a disposição.(Philliphe)
—De onde vocês são?(Rafael)
—Eu e Renato somos de Pesqueira e nosso amigo Philliphe de Arcoverde.E vocês?(o vidente)
—Somos daqui mesmo e do universo ao mesmo tempo.(Respondeu misteriosamente Rafael)
—Não entendi.(Constatou o vidente)
—Também não.(Reforçou Philliphe)
—Como assim?(Quis saber Renato, incrédulo)
—O que o meu colega quis dizer é que todos nós temos uma origem divina.Temos um nascimento corpóreo e outro espiritual.Não é isto,Rafael?(Interveio Uriel)
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