Gwen sempre se maravilhava com sua habilidade; ela nunca tinha errado, nem uma única vez em toda sua vida. Ela tinha salvado mais vidas do que as que o exército tinha tomado. Ela se perguntava se aquela era uma habilidade aprendida ou se tinha sido herdada. A mãe de Illepra tinha sido curandeira e sua avó também. Mas, ao mesmo tempo, Illepra tinha passado cada minuto de sua vida estudando poções e artes de cura.
“Um veneno muito poderoso.” Illepra acrescentou mais confiante. “Um que eu raramente encontro. Um veneno caríssimo. Quem estiver tentando matá-lo sabe o que está fazendo. É incrível que ele não tenha morrido. Ele deve ser muito mais forte do que pensamos.”
“Ele herdou essa força de meu pai.” Gwen disse. “Ele tinha a força de um touro. Todos os MacGil kings tinham.”
Illepra atravessou a sala e misturou várias ervas em um recipiente de madeira, cortando, moendo-as e adicionando-lhes um líquido durante o processo. O produto final era uma pomada espessa, verde, com a qual ela encheu a palma da mão e correu de volta para o lado de Godfrey para aplicá-la massageando sua testa, sua garganta e a parte de baixo de seus braços. Quando ela terminou, ela atravessou a sala novamente, pegou um copo e derramou vários líquidos nele, um líquido vermelho, um marrom e um roxo. À medida que os líquidos se misturavam, a poção chiava e borbulhava. Ela a mexeu com uma longa colher de madeira, em seguida, correu de volta para Godfrey e aplicou-a sobre seus lábios.
Godfrey não se mexeu. Illepra chegou por trás de sua cabeça, levantou-a com a palma da mão e tentou meter o líquido em sua boca. A maior parte dele derramou pelas comissuras, mas parte dele passou por sua garganta.
Illepra limpou o líquido de sua boca e queixo e então, finalmente se inclinou para trás e suspirou.
“Ele vai viver?” Gwen perguntou ansiosa.
“É possível.” Ela respondeu sombria. “Eu lhe dei tudo o que tenho, mas não será suficiente. Sua vida está nas mãos do destino.”
“O que eu posso fazer?” Gwen perguntou.
Ela se virou e olhou para Gwen.
“Reze por ele. Esta vai ser realmente uma longa noite.”
Kendrick nunca tinha apreciado o que era a liberdade, verdadeira liberdade, até aquele dia. O tempo que ele passou trancado no calabouço havia mudado seu ponto de vista sobre a vida. Agora ele apreciava cada pequena coisa: o calor do sol em seu rosto; o vento em seu cabelo; simplesmente poder estar ao ar livre; deslocar-se em um cavalo, sentindo a terra abaixo dele ficar para trás em alta velocidade; estar de novo com sua armadura; ter o seu armamento de volta e andar ao lado de seus irmãos em armas fazia com que ele se sentisse como se tivesse saído disparado de um canhão. Isso o fazia se sentir temerário. Isso era algo que ele nunca havia experimentado antes.
Kendrick galopava, inclinando-se ao vento, seu amigo íntimo Atme ia ao seu lado, muito grato pela oportunidade de lutar com seus irmãos para não perder aquela batalha, ansioso por libertar sua cidade natal dos McClouds e fazê-los pagar caro por invadi-la. Ele cavalgava com um forte desejo de derramar sangue, mas mesmo enquanto cavalgava ele sabia que o verdadeiro alvo da sua ira não eram os McClouds, mas sim seu irmão, Gareth. Ele nunca iria perdoá-lo por aprisioná-lo; por acusá-lo do assassinato de seu pai; por levá-lo embora na frente de seus homens e por tentar executá-lo. Kendrick queria vingança contra Gareth, mas já que ele não podia tê-la ainda, pelo menos não naquele dia, ele iria obtê-la com os McClouds.
No entanto, quando Kendrick retornasse à Corte do Rei, ele iria resolver as coisas. Ele faria o que pudesse para derrubar seu irmão e incutir em sua irmã Gwendolyn a tarefa de ser a nova governante.
Eles se aproximaram da cidade saqueada e enorme, nuvens negras espiraladas giravam em direção a eles, enchendo as narinas de Kendrick com uma fumaça acre. Doía-lhe ver uma cidade MacGil assim. Se seu pai ainda estivesse vivo, isso jamais teria acontecido; se Gareth não tivesse sido o sucessor dele, isso tampouco teria acontecido. Era uma desgraça, uma mancha na honra dos MacGils e do Exército Prata. Kendrick orou para que não fosse tarde demais para salvar aquelas pessoas; para que os McClouds não tivessem estado ali por muito tempo e para que não houvesse muitas pessoas feridas ou mortas.
Ele esporou o cavalo, cavalgando na frente dos outros enquanto todos eles investiam como um enxame de abelhas, pela entrada da cidade, cujas portas estavam abertas. Eles arremeteram, Kendrick puxou a espada, preparando-se para enfrentar uma série de inimigos McCloud enquanto eles avançavam pela cidade. Ele soltou um grande grito e quando ele o fez, todos os homens ao seu redor, prepararam-se para o confronto.
Mas quando ele passou pelo portão e entrou na praça poeirenta da cidade, ficou perplexo ao não ver ninguém. Tudo que havia ao redor dele eram os sinais reveladores de uma invasão: destruição; incêndios; casas saqueadas; corpos empilhados; mulheres rastejando. Havia animais mortos e sangue nas paredes. Tinha sido um massacre. Os McClouds tinham devastado aquele povo inocente. Esse pensamento deixou Kendrick doente. Os McClouds eram uns covardes.
Mas o que deixou Kendrick ainda mais perplexo enquanto cavalgava era o fato de que os McClouds não estavam à vista. Ele não conseguia entender. Era como se todo o exército houvesse evacuado deliberadamente, como se soubessem que eles estavam vindo. Fogueiras ainda estavam ardendo e estava claro que elas tinham sido acesas com um propósito.
Estava começando a ficar claro para Kendrick que tudo aquilo era um chamariz. Que os McClouds queriam atrair o exército MacGil para aquele lugar.
Mas por quê?
Kendrick repente virou-se, olhou em volta, desesperado para ver se faltava algum dos seus homens, se algum contingente havia sido atraído para longe, para outro local. Sua mente estava sendo inundada com uma nova sensação, a sensação de que aquilo tinha sido arranjado para isolar um grupo de seus homens e emboscá-los. Ele olhou para todos os lugares, perguntando-se quem estaria faltando.
E então a revelação o atingiu como um raio. Faltava alguém. Seu escudeiro.
Thor.
Thor estava montado em seu cavalo, no topo da colina, o grupo de membros da Legião e Krohn estavam ao lado dele. Ele olhava para a visão surpreendente diante dele. Até onde a vista alcançava, era possível ver as tropas McCloud, um vasto e amplo exército, montado a cavalo, esperando por eles. Eles tinham caído em uma armadilha. Forg devia tê-los levado ali de propósito, ele os havia traído. Mas por quê?
Thor engoliu saliva, olhando para o que parecia ser sua morte certa.
Um grande grito de guerra se ouviu quando o exército McCloud de repente, investiu contra eles. Eles estavam a menos de um quilômetro de distância e aproximavam-se rapidamente. Thor olhou para trás, por cima do ombro, mas segundo ele pôde ver, não havia reforços. Eles estavam completamente sozinhos.
Thor sabia que não tinha outra escolha a não ser defender sua última posição ali, naquela pequena colina, ao lado daquela fortaleza deserta. As probabilidades eram escassas e não havia nenhuma maneira de que pudessem vencer. Mas se ele tivesse de descer a colina, ele desceria bravamente e iria enfrentar a todos como um homem. A Legião havia lhe ensinado muito. Fugir deles não era uma opção. Thor preparou-se para enfrentar sua morte.
Thor voltou-se e olhou para o rosto de seus amigos, ele podia ver que eles também estavam pálidos de medo. Ele via a morte em seus olhos. Mas para seu crédito, eles permaneciam ali corajosamente. Nenhum deles se encolheu ou fez algum movimento para virar-se e ir embora, apesar de que seus cavalos estivessem empinando. A legião era uma unidade agora. Eles eram mais do que amigos. A Centena havia feito deles uma equipe de irmãos. Nenhum deles iria deixar o outro. Todos tinham feito um voto e sua honra estava em jogo e para a Legião, a honra era mais sagrada do que o sangue.
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