Riley percebeu vagamente que isso era verdade.
Essa não era a primeira vez que ela via seu pai desde a sua morte no ano passado.
E essa não era a primeira vez em que ela ficara intrigada com a presença dele. Como poderia estar falando com um homem morto era algo que não fazia sentido para ela.
Mas ela sabia de uma coisa com certeza.
Não queria nada com ele.
Queria estar entre as pessoas que não a faziam se odiar.
Ela se virou e começou a andar em direção a Blaine e as meninas que ainda estavam brincando com a bola de praia.
Mais uma vez foi parada por aquela barreira invisível.
Seu pai riu. “Quantas vezes eu tenho que te dizer? Você não tem que estar com eles.”
Todo o corpo de Riley tremia – fosse de raiva ou de desânimo, ela não tinha certeza.
Ela virou-se para o pai e gritou…
"Me deixe em paz!"
"Você tem certeza?" Ele disse. "Eu sou tudo o que você tem. Eu sou tudo o que você é.”
Riley rosnou, "Eu não sou nada como você. Eu sei o que significa amar e ser amado”.
Seu pai abanou a cabeça e arrastou os pés na areia.
"Não é que eu não me compadeça" Ele disse. "É uma maldita vida inútil que você tem – buscando justiça para as pessoas que já estão mortas, exatamente as pessoas que não precisam mais de justiça. Tal como aconteceu comigo no Vietname, uma guerra estúpida que não havia como vencer. Mas você não tem escolha e é hora de resolver isso. Você é uma caçadora, como eu. Eu te criei assim. Não sabemos mais nada, nenhum de nós.”
Riley olhou fixamente para ele, testando sua vontade contra a dele.
Às vezes conseguia vencê-lo, fazendo-o piscar os olhos.
Mas aquele não era um desses momentos.
Ela piscou e desviou o olhar.
Seu pai zombou dela e disse, “Raios, se você quer ficar sozinha, tudo bem para mim. Eu também não estou gostando muito da sua companhia.”
Ele se virou e foi andando pela praia.
Riley se virou e desta vez viu todos eles indo embora – April e Jilly de mãos dadas, Blaine e Crystal seguindo seu próprio caminho.
Quando começaram a desaparecer na manhã perdida, Riley bateu na barreira e tentou gritar…
"Voltem! Por favor voltem! Eu amo todos vocês!"
Seus lábios se moviam, mas não emitiam som algum.
*
Os olhos de se abriram e ela estava deitada na cama.
Um sonho, Pensou. Eu deveria saber que era um sonho.
Seu pai às vezes aparecia em seus sonhos.
De que outra forma ele poderia visitá-la, estando morto?
Levou um momento para perceber que estava chorando.
A solidão avassaladora, o isolamento das pessoas que mais amava, as palavras de advertência de seu pai…
"Você é uma caçadora, como eu."
Não é de admirar que ela tivesse acordado com tanta aflição.
Riley pegou um lenço e conseguiu acalmar-se. Mas mesmo assim, essa sensação de solidão não desaparecia. Ela lembrou a si mesma que as crianças estavam dormindo em outro quarto e Blaine estava em outro.
Mas parecia difícil acreditar.
Sozinha no escuro, sentia como se outras pessoas estivessem longe, do outro lado do mundo.
Pensou em se levantar e ir na ponta dos pés pelo corredor e se juntar a Blaine em seu quarto, mas…
As crianças.
Eles estavam ficando em quartos separados por causa das crianças.
Riley arrumou o travesseiro em volta da cabeça e tentou dormir novamente, mas não conseguia parar de pensar…
Um martelo.
Alguém no Mississippi foi morto com um martelo.
Disse a si mesma que não era o caso dela e dissera não a Brent Meredith.
Mas mesmo quando finalmente voltou a dormir, esses pensamentos não iriam desapareceriam…
Há um assassino lá fora.
Há um caso para ser resolvido.
Quando entrou na delegacia de polícia de Rushville logo pela manhã, Samantha teve a sensação de que estaria em apuros. No dia anterior fizera alguns telefonemas que talvez não devesse ter feito.
Talvez eu não me devesse meter no que não me diz respeito, Pensou.
Mas de alguma forma, não se meter não era fácil para ela.
Ela estava sempre tentando consertar as coisas, às vezes coisas que não podiam ser corrigidas ou coisas que outras pessoas não queriam corrigir.
Como de costume, quando ela apareceu para o trabalho, Sam não viu outros policiais por perto, apenas a secretária do chefe, Mary Ruckle.
Seus colegas a provocavam muito por isso…
"A sempre disponível Sam" Diziam. "Sempre a primeiro a chegar e a última a sair."
De alguma forma, nunca pareciam dizer isso de uma maneira legal. Mas ela sempre lembrou a si mesma que era natural que “a sempre disponível Sam” fosse provocada. Ela era a policial mais nova e a mais nova da força de Rushville. Não ajudava em nada que também fosse a única mulher na força.
Por um momento, Mary Ruckle não pareceu notar a chegada de Sam. Estava ocupada fazendo as unhas – sua ocupação habitual durante a maior parte do dia de trabalho. Sam não conseguia entender o apelo de fazer as unhas. Ela sempre mantinha aa suaa simples e curtaa, o que talvez fosse uma das muitas razões pelas quais as pessoas pensavam nela como, bem…
Pouco feminina.
Não que Mary Ruckle fosse o que Sam consideraria atraente. Ainda assim, Mary era casada e tinha três filhos, e poucas pessoas em Rushville previam esse tipo de vida para Sam.
Se Sam realmente queria esse tipo de vida, realmente não sabia. Tentava não pensar muito no futuro. Talvez fosse por isso que ela se concentrava tanto em qualquer coisa que aparecesse. Não conseguia imaginar um futuro para si mesma, pelo menos não entre as escolhas que pareciam estar disponíveis.
Mary soprou as unhas, olhou para Sam e disse…
"Chefe Crane quer falar com você."
Sam assentiu com um suspiro.
Assim como eu esperava, Pensou.
Ela entrou no escritório do chefe e encontrou-o jogando Tetris em seu computador.
"Só um minuto" Ele resmungou ao ouvir Sam entrar no gabinete.
Provavelmente distraído com a chegada de Sam, rapidamente perdeu o jogo que estava jogando.
"Droga" Disse ele, olhando para a tela.
Sam se preparou. Ele provavelmente já estava chateado com ela. Perder um jogo de Tetris não ia melhorar seu humor.
O chefe virou-se em sua cadeira giratória e disse…
"Kuehling, sente-se."
Sam obedientemente sentou-se em frente à sua mesa.
O Chefe Crane juntou as pontas dos dedos e olhou para ela por um momento, tentando, como de costume, parecer o grande cara que imaginava ser. E como de costume, Sam não ficou impressionada.
Crane tinha cerca de trinta anos e tinha uma aparência agradável, como Sam achava que seria mais adequado para um homem de seguros. Em vez disso, ele subiu para o posto de chefe de polícia devido ao vácuo de poder que o chefe Jason Swihart havia deixado quando se fora subitamente embora há dois anos.
Swihart era um bom chefe e todos gostavam dele, inclusive Sam. Foi oferecido a Swihart um ótimo trabalho com uma empresa de segurança em Sillicon Valley e ele compreensivelmente mudou-se para pastos mais verdes.
Então agora Sam e os outros policiais respondiam ao chefe Carter Crane. No que dizia respeito a Sam, ele era mediocridade em um departamento cheio de mediocridades. Sam nunca admitiria isso em voz alta, mas tinha certeza de que tinha mais cérebro do que Crane e todos os outros policiais locais juntos.
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