Nada, além daquele maldito clã White, enraizado embaixo dos Claustros. Sim, eles seriam uma pedra no seu caminho. Mas não uma pedra muito grande. Assim que ele encontrasse aquela garota horrível, Caitlin, e aquele traidor renegado, Caleb, eles o levariam até a espada. E então, o clã White ficaria indefeso. Nada sobraria para ficar no caminho dele.
Kyle se encheu de ódio ao pensar naquela garotinha estúpida, escapando das suas garras. Ela havia o feito de idiota.
Ele virou na Wall Street, e um transeunte, um homem grande, teve o azar de passar por ele. Quando os seus caminhos se cruzaram, Kyle o empurrou com o ombro o mais forte que pôde. O homem caiu para trás por vários metros, batendo em uma parede.
O homem, vestido em um bom terno, gritou, “Ei cara, qual é o seu problema!?”
Mas Kyle o encarou com um sorriso irônico, e a expressão do homem mudou. Com 1,98 m, ombros enormes e características impressionantes, Kyle não era um homem que pudesse ser desafiado. O homem, apesar do seu tamanho, se virou rapidamente e continuou caminhando. Ele sabia o que era melhor para ele.
Empurrar o homem o fez se sentir um pouco melhor, mas a raiva de Kyle ainda era grande. Ele pegaria aquela garota. E a mataria lentamente.
Mas agora não era a hora. Ele precisava limpar a mente. Ele tinha coisas mais importantes para fazer. O carregamento. O cais.
Sim, ele respirou fundo e, lentamente, sorriu novamente. O carregamento estava a apenas algumas quadras de distância.
Este seria o seu Natal.
Sam acordou com uma enorme dor de cabeça. Ele abriu um olho e percebeu que havia desmaiado no chão do celeiro, no feno. Estava frio. Nenhum dos amigos dele haviam se preocupado em atiçar o fogo na noite anterior. Todos estavam chapados demais.
E o pior, a sala ainda estava girando. Sam levantou a cabeça, puxando um pedaço de feno da sua boca, e sentiu uma dor terrível em suas têmporas. Ele havia dormido em uma posição estranha, e o seu pescoço doía quando ele virava a cabeça. Ele esfregou os olhos, tentando tirar as teias de aranha deles, mas elas não estavam saindo facilmente. Ele realmente havia exagerado na noite anterior. Ele lembrou do bong. Depois da cerveja, do whisky, e de mais cerveja. Do vômito. E depois de mais maconha, para suavizar todo o resto. E então, de desmaiar, em algum momento da noite. Quando ou onde, ele não conseguia lembrar.
Ele estava com fome, mas enjoado ao mesmo tempo. Ele sentiu como se pudesse comer uma pilha de panquecas e uma dúzia de ovos, mas também sentiu que iria vomitar no momento que comesse. Na verdade, ele sentia vontade de vomitar de novo naquele momento.
Ele tentou lembrar de todos os detalhes do dia anterior. Ele lembrou de Caitlin. Aquilo, ele não conseguiria esquecer. Ela aparecendo ali. Ela derrubando Jimbo daquele jeito. O cachorro. Que diabos? Tudo aquilo havia acontecido mesmo?
Ele olhou ao redor e viu o buraco na lateral da parede, por onde o cachorro havia passado. Ele sentiu o ar frio entrando, e soube que aquilo havia realmente acontecido. Ele não sabia o que pensar. E quem era aquele cara que estava com ela? O cara parecia um zagueiro da NFL, mas pálido demais. Ele parecia ter acabado de sair do Matrix. Sam não conseguia nem imaginar quantos anos ele tinha. O estranho era que, Sam sentiu que o conhecia de algum lugar.
Sam olhou ao redor e viu todos os seus amigos, desmaiados em várias posições, a maioria deles roncando. Ele pegou seu relógio do chão e viu que era 11h. Eles ainda dormiriam por algum tempo.
Sam cruzou o celeiro e pegou uma garrafa de água. Ele ia tomá-la, quando olhou para baixo e viu que a garrafa estava cheia de tocos de cigarro. Enojado, ele a colocou no chão e procurou por outra garrafa. Do canto do seu olho, ele viu um jarro meio cheio de água no chão. Ele o pegou e bebeu, e não parou até que houvesse bebido quase metade do jarro.
Ele se sentiu melhor. A sua garganta estava tão seca. Ele respirou fundo e colocou uma mão em uma têmpora. A sala ainda estava girando. Tudo fedia ali. Ele tinha que sair.
Sam cruzou a sala e abriu a porta do celeiro. O ar frio da manhã o fez se sentir bem. Felizmente, o dia estava nublado. Ainda estava claro demais, e ele apertou os olhos para enxergar. Mas não tão claro quanto poderia estar. E a neve estava caindo novamente. Ótimo. Mais neve.
Sam costumava adorar a neve. Especialmente dias de neve, quando ele podia faltar a escola. Ele lembrou de ir com Caitlin até o topo da montanha e descer de trenó por horas.
Mas agora, ele faltava a escola o tempo todo, então a neve não fazia diferença; Agora, ela era uma enorme chatice.
Sam colocou a mão no bolso e retirou um pacote amassado de cigarros. Ele colocou um na boca e o acendeu.
Ele sabia que não devia estar fumando. Mas todos os seus amigos fumavam, e eles ficavam lhe oferecendo cigarros. Finalmente, ele disse, por que não? Então, ele havia começado a fumar algumas semanas antes. Agora, ele estava começando a gostar. Ele estava tossindo bem mais, e o seu peito já doía, mas ele pensou, e daí? Ele sabia que os cigarros o matariam. Mas ele realmente não via a si mesmo vivendo por muito tempo, de qualquer forma. Ele nunca acreditou nisso. Em algum lugar, nas profundezas da sua mente, ele nunca havia acreditado que chegaria aos 20 anos.
Agora que a sua mente estava começando a ficar clara, ele pensou novamente no dia anterior. Caitlin. Ele se sentiu mal com aquilo. Muito mal. Ele a amava. Realmente a amava. Ela havia vindo até ali para vê-lo. Por que ela lhe perguntou sobre o pai deles? Ele havia imaginado aquilo?
Ele também não conseguia acreditar que ela estava ali. Ele se perguntou se a mãe deles havia enlouquecido com a partida dela. Ela deve ter enlouquecido. Ele podia apostar que ela estava enlouquecendo naquele momento. Provavelmente tentando encontrar os dois. Mas pensando bem. Talvez ela não estivesse. Quem se importa? Ela havia os feito se mudar pela última vez.
Mas Caitlin. Ela era diferente. Ele não deveria tê-la tratado daquele jeito. Ele deveria ter sido mais gentil. Ele apenas estava chapado demais naquele momento. Mesmo assim, ele se sentiu mal. Ele imaginou que havia uma parte dele que queria que as coisas voltassem ao normal, o que quer que isso fosse. E ela havia sido a coisa mais próxima que ele tinha do normal.
Por que ela havia voltado? Ela estava se mudando de volta para Oakville? Isso seria incrível. Talvez eles pudessem encontrar um apartamento juntos. Sim, quanto mais Sam pensava naquilo, mais ele gostava da ideia. Ele queria falar com ela.
Sam tirou o celular do bolso e viu uma luz vermelha piscando. Ele tocou no ícone e viu que tinha uma nova mensagem no Facebook. De Caitlin. Ela estava no velho celeiro.
Perfeito. É para lá que ele iria.
*
Sam estacionou, e caminhou pela propriedade, até o velho celeiro. O “velho celeiro” era tudo o que eles precisavam dizer. Eles sabiam o que aquilo significava. Era um lugar para onde eles sempre iam quando moravam em Oakville. Ele ficava nos fundos de uma propriedade com uma casa vazia que estava à venda a anos. A casa ficava lá, vazia, custando demais. Ninguém nem sequer veio vê-la, pelo o que eles sabiam.
E nos fundos da propriedade, bem no fundo, havia este celeiro superlegal, parado ali, totalmente vazio. Sam o havia descoberto um dia, e o havia mostrado para Caitlin. Nenhum deles viu algum problema em passar tempo dentro dele. Os dois odiavam o seu pequeno trailer, odiavam ficar trancados nele com a mãe. Uma noite, eles ficaram no celeiro até tarde, conversando, assando marshmallows na sua lareira legal, e ambos caíram no sono. Depois daquele dia, eles ficavam lá de vez em quando, especialmente quando as coisas ficavam complicadas demais em casa. Pelo menos eles o estavam usando. Depois de alguns meses, eles começaram a sentir como se o celeiro fosse a sua casa.
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