Afinal de contas, em que tipo de sarilhos é que estamos metidas? Pensou. Só por sairmos juntas?
Riley estava especialmente preocupada com Heather que ainda estava na cozinha a responder a perguntas. A pobre rapariga era particularmente próxima da companheira de quarto, Rhea. É claro que aquilo era um pesadelo para toda a gente, mas Riley nem conseguia imaginar quão duro estaria a ser para Heather.
Dali a nada, ouviram a voz do reitor a gaguejar desconfortavelmente no sistema sonoro do dormitório.
“Daqui fala o Reitor Trusler. Eu… eu tenho a certeza de que todos vocês já sabem que aconteceu algo terrível no piso das raparigas. Têm ordens do chefe da polícia Hintz para ficarem nos vossos quartos esta noite e não saírem do dormitório. Um agente da polícia ou um responsável do campus pode ir ao vosso quarto para falar com vocês. Respondam a todas as perguntas colocadas. Por agora, não planeiem sair do campus amanhã. Receberão mais informações em breve.”
Riley lembrou-se de algo que o chefe dissera…
“O mais certo é termos perguntas a colocar a muitos de vocês.”
Riley e as outras quatro raparigas eram as primeiras.
Começava a fazer sentido para ela. No final de contas, tinham estado com Rhea pouco antes da sua morte. Mas o que é que Hintz pensaria que elas sabiam?
O que é que ele pensa que eu possa saber? Interrogou-se.
Riley não fazia ideia.
Por fim, Heather saiu da cozinha acompanhada pela agente Frisbie. Heather parecia pálida e doente, como se estivesse prestes a vomitar novamente. Riley questionou-se – onde é que Heather ia passar a noite? Não podia voltar para o quarto que partilhara com Rhea.
Como se tivesse ouvido os pensamentos de Riley, a agente Frisbie disse, “A Heather vai passar o resto da noite no quarto do AR.”
Heather saiu abalada da sala comum. Riley ficou feliz por ver que a assistente residente fora ter com ela à entrada.
A agente Frisbie chamou Gina para entrar na cozinha onde Hintz estava à espera. Gina levantou-se e seguiu a mulher, deixando Riley, Trudy e Cassie envoltas num silêncio desconfortável. Parecia a Riley que o tempo tinha abrandado enquanto esperavam.
Por fim, Gina regressou. Sem dizer uma palavra às outras, atravessou a sala comum e saiu. Então a agente Frisbie chamou Cassie que foi até à cozinha.
Agora só restavam Riley e Trudy. Enquanto esperavam, Trudy não parava de lançar olhares zangados e de reprovação a Riley que gostava de poder explicar o que dissera na breve conversa que tivera com a agente Frisbie. Ela limitara-se a responder a uma pergunta simples. Não acusara ninguém de nada.
Mas o agente White ainda estava atento a elas e Riley não pode dizer nada.
Por fim, Cassie saiu da cozinha e voltou para o seu quarto, e Trudy foi a próxima a ser chamada.
Agora Riley estava sozinha com o agente White, sentindo-se isolada e com medo.
Sem nada com que se distrair, continuava a lembrar-se do corpo de Rhea, dos seus olhos abertos e da poça de sangue. Agora aquelas imagens estavam misturadas com memórias da sua própria mãe morta – há tanto tempo, mas ainda assim tão vívido na sua mente.
Como é que algo assim poderia estar a acontecer ali naquele momento no dormitório de uma faculdade?
Isto não pode estar a acontecer, Pensou.
Com certeza que não estava ali sentada a preparar-se para responder a perguntas cujas respostas não sabia.
Com certeza que uma das suas melhores amigas não tinha acabado de ser selvaticamente assassinada.
Já quase se convencera da irrealidade do momento quando a agente Frisbie saiu com Trudy da cozinha. Com uma expressão soturna, Trudy saiu da sala comum sem sequer olhar para Riley.
A agente Frisbie fez um gesto com a cabeça e Riley levantou-se e seguiu-a até à cozinha.
Isto não pode estar a acontecer, Continuava a dizer a si própria.
Riley sentou-se à mesa na cozinha, de frente para o chefe Hintz. Durante um momento, o chefe limitou-se a olhá-la, segurando no lápis sobre um bloco de notas. Riley interrogou-se se era suposto dizer alguma coisa.
Olhou para cima e viu que a agente Frisbie se tinha encostado a uma bancada. A mulher ostentava uma expressão amarga no rosto, como se não estivesse muito satisfeita com as entrevistas. Riley questionou-se se Frisbie estaria aborrecida com as respostas das raparigas ou com a forma como o chefe fazia as perguntas.
Por fim, o chefe disse, “Antes de mais nada, alguma vez a vítima lhe deu a entender que temia pela vida?”
Riley ficou impressionada com a palavra…
Vítima.
Porque é que ele não se limitava a tratá-la por Rhea?
Mas ela tinha que responder àquela pergunta.
Tentou recordar-se de conversas recentes, mas apenas se lembrou de conversas sem grande importância como aquela que tinham tido sobre a toma da pílula.
“Não,” Respondeu Riley.
“Alguém lhe desejava mal? Alguém se aborreceu com ela recentemente?”
A simples ideia parecia estranha a Riley. A Rhea era – tinha sido – tão agradável e amigável que Riley não conseguia imaginar que alguém pudesse ficar zangado com ela por mais de alguns minutos.
Mas pensou…
Será que me escapou alguma coisa?
E será que as outras raparigas tinham contado algo a Hintz que Riley desconhecia?
“Não,” Disse Riley. “Que eu saiba, ela dava-se bem com toda a gente.”
Hintz fez uma pequena pausa.
Então disse, “Diz-nos o que é que aconteceu quando tu e as tuas amigas chegaram ao Centaur’s Den.”
Riley foi inundada por uma imensidão de sensações – Rhea e Trudy a empurrarem-na para dentro do recinto onde pairava um nevoeiro denso de fumo de tabaco e a música ensurdecedora…
Teria que falar nesses pormenores?
Não, com certeza que Hintz apenas queria saber os factos simples.
Ela disse, “A Cassie, a Heather e a Gina foram diretamente para o bar. A Trudy queria que eu dançasse com ela e com a Rhea.”
Hintz revia as notas que tirara durante as entrevistas às outras raparigas que lhe tinham contado o que sabiam das ações de Riley, incluindo o facto de que Riley as deixara para ir para a parte inferior do estabelecimento.
“Mas não dançou com elas,” Disse ele.
“Não,” Afirmou Riley.
“Porque não?”
Riley ficou assustada. Porque é que a sua relutância em dançar era importante?
Então reparou que a agente Frisbie lhe lançava um olhar de apoio e abanava a cabeça. Parecia óbvio agora que a mulher considerava Hintz um parvalhão, mas nada podia fazer contra isso.
Riley disse lenta e cuidadosamente, “Eu simplesmente… bem, não estava com grande espírito de festa. Tentara estudar, mas a Rhea e a Trudy praticamente arrastaram-me para lá. Por isso comprei um copo de vinho e fui para o piso inferior.”
“Sozinha?” Perguntou Hintz.
“Sim, sozinha. Sentei-me numa mesa sozinha.”
Hintz percorreu as suas notas.
“Então não falou com mais ninguém enquanto esteve no Centaur’s Den?”
Riley pensou durante um momento e depois disse, “Bem, o Harry Rampling veio à minha mesa…”
Hintz sorriu ligeiramente ao ouvir o nome de Harry. Riley percebeu que, tal como a maioria da comunidade, o chefe tinha o quarterback em alta consideração.
Ele perguntou, “Ele sentou-se contigo?”
“Não,” Disse Riley. “Eu sacudi-o.”
Hintz mostrou-se incrédulo, aparentemente aborrecido com o facto de qualquer rapariga ter o fraco julgamento de rejeitar um verdadeitro herói como Harry Rampling. Riley começava a sentir-se um pouco exasperada. O que é que Hintz tinha a ver com as suas preferências? Em que é que isso estava relacionado com o que tinha acontecido a Rhea?
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