A frustração de Adams crescia a cada minuto que passava. Mas ele sabia que não podia demonstrá-la.
Disse, “Com todo o respeito senhor, não sei porque é que me ligou a comunicar essa notícia. A Coronel Dana Larson é o comandante do ICE aqui em Fort Mowat. Porque é que não lhe ligou primeiro?”
A resposta de Boyle apanhou Adams de surpresa.
“A Coronel Larson entrou em contacto comigo. Ela pediu-me para ligar para a UAC para ajudar.”
Adams estava perplexo.
Aquela puta, Pensou.
A Coronel Dana Larson parecia fazer tudo o que estava ao seu alcance para o aborrecer à mínima oportunidade.
E porque é que estava uma mulher à frente do ICE?
Adams fez o que podia para engolir a sua repugnância.
“Compreendo, senhor,” Disse ele.
Depois terminaram a chamada.
O Coronel Adams estava furioso. Bateu com o punho na secretária. Ele não tinha uma palavra a dizer sobre o que se passava naquele lugar?
Ainda assim, ordens eram ordens e ele tinha que obedecer.
Mas não tinha que gostar – e não tinha que facilitar a vida a ninguém.
Não queria saber que pessoas fossem mortas.
As coisas iam ficar muito feias.
Ao levar Jilly, April e Gabriela para casa, Riley não foi capaz de lhes dizer que se ia embora dali a pouco. Ia perder o primeiro grande evento de Jilly, um papel de protagonista numa peça. Será que as miúdas perceberiam que ela se limitava a seguir ordens?
Mesmo depois de chegarem a casa, Riley não lhes conseguiu dizer.
A vergonha dominava-a.
Naquele dia ganhara uma medalha de perseverança e no passado fora reconhecida por valor e coragem. E claro, as suas filhas estavam na plateia a vê-la receber a medalha.
Mas ela não se sentia uma heroína.
As miúdas dirigiram-se ao exterior para se entreterem no quintal e Riley foi para o seu quarto e começou a fazer as malas. Era uma rotina familiar. O truque era preparar uma mala pequena com items suficientes para durar alguns dias ou um mês.
Enquanto dispunha as coisas em cima da cama, ouviu a voz de Gabriela.
“Señora Riley – o que é que está a fazer?”
Riley virou-se e viu Gabriela na soleira da porta. A empregada segurava um monte de roupa lavada que iria colocar no armário do corredor.
Riley gaguejou, “Gabriela, eu… Eu tenho que ir.”
Gabriela ficou espantada.
“Ir? Para onde?”
“Tenho um novo caso. Na Califórnia.”
“Não pode ir amanhã?” Perguntou Gabriela.
Riley engoliu em seco.
“Gabriela, o avião do FBI está neste momento a minha espera. Tenho que ir.”
Gabriela abanou a cabeça.
Disse, “É bom combater o mal, Señora Riley. Mas às vezes penso que perde a noção do que é importante.”
Gabriela desapareceu em direção ao corredor.
Riley suspirou. Desde quando é que Riley pagava a Gabriela para ser a sua consciência?
Mas não se podia queixar. Gabriela era demasiado boa no que fazia.
Riley ficou a olhar para a sua mala ainda incompleta.
Abanou a cabeça e murmurou para si própria…
“Não posso fazer isto à Jilly. Não posso.”
Durante toda a sua vida sacrificara os filhos em detrimento do trabalho. Sempre. Nunca colocara os filhos à frente.
E isso, apercebeu-se, era o que estava errado na sua vida. Isso era parte da sua escuridão.
Ela era suficientemente corajosa para enfrentar um assassino em série. Mas era suficientemente corajosa para fazer dos filhos a sua prioridade?
Naquele momento, Bill e Lucy estavam a preparar-se para ir para a Califórnia.
Esperavam encontrá-la na pista de Quantico.
Riley suspirou.
Só havia uma maneira de resolver aquele problema – se o conseguisse resolver.
Tinha que tentar.
Pegou no telemóvel e ligou para o número privado de Meredith.
Perante o som da sua voz áspera, Riley disse, “Senhor, é a Agente Paige.”
“O que é que se passa?” Perguntou Meredith.
Havia uma nota de preocupação na sua voz. Riley percebeu porquê. Nunca usara aquele número a não ser em circunstâncias extremas.
Riley ganhou coragem e foi direta ao assunto.
“Senhor, gostaria de adiar a minha viagem para a Califórnia. Só por esta noite. Os Agentes Jeffreys e Vargas podem ir antes de mim.”
Após uma pausa, Meredith perguntou, “Qual é a emergência?”
Riley engoliu em seco. Meredith não ia tornar aquilo fácil.
Mas ela estava determinada a não mentir.
Numa voz trémula, gaguejou, “A minha filha mais nova, Jilly – entra na peça da escola esta noite. Ela vai representar o papel principal.”
O silêncio que se seguiu era ensurdecedor.
Será que ele me desligou a chamada? Interrogou-se Riley.
Mas pouco depois Meredith disse, “Pode repetir, por favor? Não estou certo se percebi bem.”
Riley conteve um suspiro. Ela tinha a certeza de que ela a tinha ouvido perfeitamente bem.
“Senhor, esta peça é importante para ela,” Disse Riley, ficando cada vez mais nervosa. “A Jilly… Bem, sabe que estou a tentar adotá-la. Ela teve uma vida difícil e tem os sentimentos à flor da pele e…”
A voz de Riley desvaneceu-se.
“E o quê?” Perguntou Meredith.
Riley engoliu em seco.
“Eu não a posso desiludir. Não desta vez. Não hoje.”
Outro silêncio sombrio se seguiu.
Riley começava a sentir-se mais determinada.
“Senhor, não fará qualquer diferença para este caso,” Disse ela. “Os Agentes Jeffreys e Vargas vão antes de mim e sabe como são capazes. Podem colocar-me ao corrente de tudo quando lá chegar.”
“E quando é que seria?” Perguntou Meredith.
“Amanhã de manhã. Cedo. Vou para o aeroporto assim que a peça terminar. Apanho o primeiro voo que conseguir.”
Após nova pausa, Riley acrescentou, “Eu pago a minha viagem.”
Ouviu Meredith a emitir sons.
“Certamente que pagará, Agente Paige,” Disse ele.
Riley mal conseguia acreditar.
Ele está a autorizar-me!
De repente apercebeu-se que mal respirara durante a conversa.
Teve que fazer um enorme esforço para não demonstrar de forma efusiva a sua gratidão.
Ela sabia que Meredith não gostaria disso. E a última coisa que queria era que ele mudasse de ideias.
Então limitou-se a dizer, “Obrigada.”
Ouviu outro grunhido.
Depois Meredith disse, “Diga à sua filha para partir uma perna.”
E terminou a chamada.
Riley suspirou de alívio, depois olhou para cima e viu Gabriela na soleira da porta outra vez, a sorrir.
Estivera obviamente a ouvir a chamada.
“Penso que está a crescer, Señora Riley,” Disse Gabriela.
*
Sentada na plateia com April e Gabriela, Riley estava a gostar muito da peça da escola. Já se esquecera de como eventos daqueles podiam ser encantadores.
Os miúdos do secundário estavam todos enfarpelados com fatos improvisados. Tinham pintado um cenário para dar vida à história de Deméter e Perséfone – campos cheios de flores, um vulcão na Sicília, as cavernas húmidas do submundo e outros locais míticos.
E a atuação de Jilly estava simplesmente fantástica!
Ela interpretava Perséfone, a jovem filha da deusa das colheitas. Riley deu por si a lembrar-se da história à medida que ia sendo contada.
Perséfone estava a colher flores quando Hades, o deus do submundo, passou na sua carruagem e a levou para o submundo para ser a sua rainha. Quando Deméter se apercebeu do que sucedera à filha, gemeu de dor.
Riley sentiu arrepiar-se pela forma como a rapariga que interpretava Deméter expressava a sua dor.
Naquele momento, a história começou a afetar Riley de uma forma que não esperava.
A história de Perséfone parecia-se estranhamente com a própria história de Jilly. No final de contas, era a história de uma rapariga que perdera parte da juventude devido à intrusão de forças mais poderosas do que ela.
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