Ele podia ver a descrença de Akila e a certeza de que tinha de ser uma armadilha. Thanos continuou rapidamente, sabendo que a sua melhor esperança de sobreviver nos próximos minutos estava em convencer aquele homem que ele queria ajudar a rebelião.
"Tu próprio disseste que um dos grandes problemas é que o Império tem a sua frota a apoiar o ataque", disse Thanos. "Eu sei que eles deixaram suprimentos nos navios porque estavam ansiosos por começar o ataque. Portanto, tomamos os navios."
Akila levantou-se. "Ouviram isto, rapazes? O príncipe aqui tem um plano para lhes tirar os navios do Império."
Thanos viu os rebeldes a começarem a reunirem-se à volta.
"De que é que serviria?", perguntou Akila. "Tomamos os navios deles, mas e depois?"
Thanos fez o seu melhor para explicar. "No mínimo, será uma rota de fuga para algumas das pessoas da cidade e para alguns dos teus soldados. Vai tirar suprimentos dos soldados do Império também, pelo que eles não vão conseguir continuar por muito tempo. E depois há as balistas."
"O que são eles?", perguntou um dos rebeldes. Ele parecia ser um soldado que não ia aguentar muito. Muito poucos soldados na sala pareciam, aos olhos de Thanos.
"Atiradores de dardos", explicou Thanos. "Armas projetadas para danificar outros navios, mas se fossem voltadas contra soldados perto da costa..."
Akila, pelo menos, parecia estar a considerar as possibilidades. "Isso poderia ser algo", ele admitiu. "E podemos incendiar quaisquer navios que não conseguirmos usar. No mínimo, Draco iria puxar os seus homens de volta para tentar obter os seus navios de volta. Mas, para começar, como podemos obter esses navios, Príncipe Thanos? Eu sei que de onde tu vens, se um príncipe pede algo, ele recebe-lo, mas eu duvido que tal seja aplicado à frota de Draco."
Thanos forçou-se a sorrir com um nível de confiança que não sentia. "Isso é quase exatamente o que vamos fazer."
Mais uma vez, Thanos tinha a impressão que Akila estava a perceber mais rápido do que qualquer um dos seus homens. O líder dos rebeldes sorriu.
"Estás louco", disse Akila. Thanos não conseguiu perceber se a intenção era insultar ou não.
"Há mortos suficientes nas praias", Thanos explicou, para benefício dos outros. "Tiramos-lhes as armaduras e vamos para os navios. Comigo lá, vai parecer como uma companhia de soldados a voltar da batalha para se abastecerem de provisões."
"O que achas?", perguntou Akila.
À luz do fogo que cintilava no interior da caverna, Thanos não conseguia perceber quais eram os homens que falavam. Em vez disso, as perguntas deles pareciam emergir da escuridão, pelo que ele não poderia dizer quem concordava com ele, quem duvidava dele e quem o queria ver morto. Ainda assim, aquilo não era pior do que os políticos na sua casa. Melhor, por muitos aspetos, já que ninguém estava a sorrir para si, enquanto conspirava para matá-lo.
"E quanto aos guardas nos navios?", perguntou um dos rebeldes.
"Não haverá muitos", disse Thanos. "E eles vão saber quem eu sou."
"E quanto a todas as pessoas que irão morrer na cidade, enquanto fazemos isso?", gritou outro.
"Eles estão a morrer agora", insistiu Thanos. "Pelo menos assim, tens uma forma de ripostar. Se o fizermos bem, teremos uma maneira de salvar centenas, se não milhares, de eles."
Fez-se silêncio, e a última pergunta surgiu como uma flecha.
"Como podemos confiar nele, Akila? Ele não é apenas um deles, ele é um nobre. Um príncipe."
Thanos girou, afastando-se da direção de onde a voz tinha vindo, virando-se de costas para todos verem. "Eles apunhalaram-me pelas costas. Eles abandonaram-me para eu morrer. Eu tenho tantos motivos para os odiar como qualquer homem aqui."
Naquele momento, ele não estava apenas a pensar no Typhoon. Ele estava a pensar em tudo o que a sua família havia feito ao povo de Delos, e, sobretudo o que tinha feito a Ceres. Se eles não o tivessem obrigado a ir à Praça do Chafariz, ele nunca teria lá estado quando o seu irmão morreu.
"Podemos ficar aqui sentados", disse Thanos, "ou podemos agir. Sim, será perigoso. Se eles perceberem o nosso disfarce, provavelmente morreremos. Eu estou disposto a arriscar. E vocês?" Ninguém respondeu e Thanos levantou a sua voz. "E vocês?"
Tal obteve uma aclamação em resposta. Akila aproximou-se dele, batendo com a mão no ombro de Thanos.
"Tudo bem, Príncipe, parece que estamos a fazer as coisas à tua maneira. Faz com que isto resulte, e terás um amigo para a vida." A mão dele apertava-o até Thanos sentir a dor de um disparo nas suas costas. "Se nos traíres, no entanto, ou matares os meus homens, juro que te perseguirei."
Havia partes de Delos, onde Berin normalmente não ia. Eram partes que fediam a suor e desespero, já que as pessoas faziam o que precisavam, a fim de sobreviverem. Ele dispensava ofertas vindas das sombras, dando aos habitantes um olhar duro para os manter afastados.
Se eles soubessem acerca do ouro que transportava, Berin sabia que eles lhe cortariam a garganta, dividiriam a bolsa debaixo da sua túnica e a gastariam nas tabernas locais e casas de jogo antes do dia terminar. Era nesses lugares que ele agora procurava, porque onde mais é que ele iria encontrar soldados quando eles estavam de folga? Enquanto cuteleiro, Berin conhecia os lutadores e sabia os lugares onde eles iam.
Ele tinha ouro porque ele tinha visitado um comerciante, levando consigo duas adagas que ele tinha forjado como exemplos para aqueles que poderiam empregá-lo. Elas tinham sido coisas bonitas, dignas do cinto de qualquer nobre, trabalhadas com filigrana de ouro e gravadas com cenas de caça nas lâminas. Elas eram as últimas coisas de valor que lhe restavam no mundo. Ele tinha estado numa fila com uma dúzia de outras pessoas na frente da mesa do comerciante, e não tinha obtido metade do valor que ele sabia que elas valiam.
Para Berin, isso não importava. Tudo o que lhe importava era encontrar os seus filhos, e para isso era preciso ouro. Ouro que ele poderia usar para comprar cerveja para as pessoas certas, ouro que ele poderia pressionar contra as palmas das mãos certas.
Ele percorreu as tabernas de Delos, tendo tal sido um processo lento. Ele não podia simplesmente aparecer e fazer as perguntas que queria. Ele tinha de ter cuidado. O facto de ele ter alguns amigos na cidade e outros mais no exército do Império ajudava. As suas espadas tinham salvado mais do que apenas algumas vidas ao longo dos anos.
Ele encontrou o homem que procurava, meio bêbado, a meio da tarde, sentado numa taberna e fedendo tanto que tinha espaço livre à sua volta. Berin adivinhou que era apenas o uniforme do exército do Império que os impedia de o atirar para a rua. Bem, isso e o facto de que Jacare era gordo o suficiente para que fosse preciso metade dos clientes para erguê-lo.
Berin viu os olhos do homem gordo levantarem-se quando ele se aproximou. "Berin? Meu velho amigo! Vem tomar uma bebida comigo! Embora tenhas de a pagar. Atualmente estou um pouco..."
"Gordo? Bêbado?", adivinhou Berin. Ele sabia que o outro homem não se importaria. O soldado parecia fazer um esforço para ser o pior exemplo do exército do Império. Ele até parecia sentir uma espécie de orgulho perverso nisso.
"... financeiramente envergonhado", Jacare terminou.
"Eu talvez te possa ajudar com isso", disse Berin. Ele pediu bebidas, mas não tocou na dele. Ele precisava manter a cabeça limpa para procurar Ceres e Sartes. Em vez disso, ele esperou que Jacare emborcasse a sua com um ruído que soava a Berin como um burro numa calha de água.
"Então, o que traz um homem como tu à minha humilde presença?", perguntou Jacare depois de um tempo.
"Estou à procura de notícias", disse Berin. "O tipo de notícia que um homem na tua posição talvez possa ter ouvido."
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