A rainha riu-se novamente. Daquela vez, ninguém se juntou. "Vieste até aqui, e nem sequer sabes que o teu príncipe favorito está prestes a morrer pelo assassinato do seu rei."
"Thanos não mataria ninguém!", insistiu Ceres.
Ela não tinha a certeza porque é que ainda o tinha de dizer. Certamente ninguém acreditava realmente que Thanos pudesse alguma vez fazer algo assim!
"Ele ainda vai morrer por isso", respondeu a rainha Athena, com uma nota de tranquilidade que fez Ceres desatar a correr para agarrá-la, encostando-lhe uma lâmina à garganta.
Naquele momento, todos os pensamentos sobre acabar com a violência caíram esquecidos na sua mente.
"Onde é que ele está?", perguntou ela. "Onde é que ele está?"
Ela viu a rainha a ficar pálida. Uma parte de Ceres ficou feliz com isso. A rainha Athena merecia estar assustada.
"No pátio sul, à espera da sua execução. Estás a ver, não és diferente de nós."
Ceres atirou-a do trono para o chão. "Alguém que a leve daqui antes que eu faça algo que me arrependa."
Ceres saiu a correr do salão, forçando o seu caminho por entre os últimos vestígios de luta à sua volta. Atrás dela, ela ouviu a rainha Athena a rir-se.
"Estás demasiado atrasada! Nunca chegarás lá a tempo de o salvar."
Stephania estava sentada a olhar para o horizonte, fazendo o seu melhor para ignorar os ressaltos do navio e tentando avaliar o momento em que ela teria de assassinar o capitão do barco.
Que ela teria o de fazer, não havia dúvida nenhuma. Felene tinha sido como um presente dos deuses, quando Stephania e a sua aia tinham encontrado o capitão em Delos. Felene tinha sido uma maneira de sair da cidade, e uma maneira de chegar a Felldust. Tudo enviado pela própria mão de Thanos.
Mas uma vez que ela era de Thanos, ela tinha de morrer. O próprio facto de que ela era suficiente leal para as transportar até tão longe significava que ela era demasiado leal para se confiar tendo em conta tudo o que Stephania pretendia fazer a seguir. A única questão agora era o momento.
Isso era um ato de equilíbrio. Stephania olhou para cima, vendo as aves marinhas que voavam por cima.
"Elas são um sinal de que estamos a aproximarmo-nos da costa, não são?", perguntou ela.
"Muito bem, princesa", disse Felene, tentando ensinar Elethe a pescar para fora da amurada na proa, estando um pouco mais perto do que ela precisava. A familiaridade do seu tom fez com que os ânimos de Stephania se crispassem, mas ela fazia o seu melhor para disfarçar.
"Então, estaremos lá em breve?"
"Mais um pouco e avistaremos terra", disse Felene. "Mais uma depois daquela, e chegaremos à aldeia dos pescadores, onde Elethe diz que vai encontrar pessoas do seu tio. Porquê? Ansiosa para parar de vomitar?"
"Ansiosa para fazer um monte de coisas", respondeu Stephania. Apesar de que colocar os pés de volta em terra firme era uma delas. O enjoo matinal não se compadia bem com o enjoo de mar.
Era apenas uma das razões que ela precisava para matar Felene mais cedo ou mais tarde. Mais cedo ou mais tarde, ela iria perceber que Stephania estava grávida, e isso não se encaixava com a versão que ela tinha contado sobre Lucious a ter forçado a beber a sua poção.
Quando é que ela iria adivinhar? Não poderia ter sido mais óbvio para Stephania que ela estava grávida agora, com o seu vestido a repuxar na sua barriga em expansão e o seu corpo a parecer transformar-se de tantas maneiras como a vida que crescia dentro de si. Ela colocou a mão na sua barriga automaticamente, querendo proteger a vida lá dentro e querendo que ela crescesse e se tornasse forte. No entanto Felene continuava a passar o seu tempo com Elethe, tão facilmente distraída por um rosto bonito.
Isso era outra coisa a considerar na avaliação de quando agir. Sim, Stephania necessitava de esquecer aquele assunto o tempo suficiente para deixar que se aproximassem de terra, mas quanto mais tempo ela deixava passar, maior o perigo era de que a lealdade da sua aia pudesse ser testada. Tão útil quanto Felene poderia ser, Elethe seria muito mais útil quando fosse para encontrar o feiticeiro. Mais do que isso, a aia era dela.
Por enquanto, Stephania esperava, porque ela não queria ter de pilotar aquela banheira enquanto não havia terra à vista. Ela esperava e observava enquanto Felene ajudava a sua aia pousar um peixe que se debatia, decapitando-o com uma faca com um aspeto perversamente afiado. O facto de ela ter olhado, enquanto o fazia, só disse a Stephania que ela estava a ficar sem tempo.
Pensar no que a levava até ali fazia com que Stephania continuasse, fazendo-a ficar ainda mais determinada. Felldust tinha o feiticeiro que tinha matado Anciãos. Felldust iria proporcionar-lhe uma maneira de derrubar Ceres. Depois disso... depois disso, ela poderia lidar com Thanos, forjando o seu filho na arma que ela precisava.
"Não era preciso chegarmos a isto", disse Stephania, de pé para conseguir olhar ao longe sobre a amurada.
"De que é que estás a falar, princesa?", perguntou Felene.
"Eu perguntei se aquilo ali era terra?", perguntou Stephania.
Era, o pó preto da costa erguendo-se na borda do horizonte. Ao início, era apenas uma linha fraca acima das ondas, elevando-se como um pouco de sol rochoso até começar a preencher a visão de Stephania.
"Sim", disse Felene, movendo-se para a amurada e olhando ao longe. "Em breve vais estar sã e salva em terra, princesa."
A mão de Stephania mergulhou para dentro da sua capa. Com o infinito cuidado conhecido apenas por aqueles que trabalhavam com venenos, ela escondeu um dardo na mão. "Felene, há algo que eu te quero dizer desde que partimos."
"O que é, princesa?", perguntou Felene com um sorriso zombeteiro.
"É simples", disse Stephania com um sorriso muito próprio. "Não não me chames de princesa!"
A sua mão brilhou ao redor, com o dardo a brilhar ao sol enquanto ela se dirigia para a pele exposta do rosto de Felene.
Stephania sentiu uma dor a explodir no seu pulso, não tendo percebido de imediato que Felene lhe tinha levantado o cotovelo para cima, deixando o seu braço colidir com o dardo. A mão de Stephania abriu-se num pasmo e o dardo caiu para o lado.
Naquele momento, Felene já havia esbofeteado Stephania, com tal força que ela cambaleou e a dor queimava-lhe a bochecha. Aquela não era a estalada delicada nem feminina de uma miúda nobre. Era um golpe de marinheiro. Era uma estalada pesada e tinha atirado Stephania com força para as tábuas do convés.
"Achas que eu sou idiota?", quis saber Felene. "Achas que eu não sei que tens andado a tramar isto desde que saímos?"
"Eu…", começou Stephania, mas o barulho nos seus ouvidos não a deixava continuar.
"Tens sorte em estares grávida de Thanos, senão eu dava-te de comer aos tubarões agora!", disse de repente Felene. "Oh sim, eu detetei os sinais! E agora estou a debater se te vou vender a um traficante de escravos, matar-te sem qualquer reserva assim que a criança de Thanos nasça, ou apenas considerar isto tudo como um mau negócio e partir de volta para Delos!"
Stephania começou a levantar-se e Felene empurrou-a de volta para baixo. "Oh não, princesa, podes ficar onde estás. É mais seguro para todos nós que assim seja, até que eu encontre corda suficiente para te amarrar ao mastro."
Stephania olhou então para Elethe disfarçadamente, lançando-lhe o mais suave dos acenos, esperando que fosse suficiente.
E foi. A aia desembainhou uma curta lâmina curva e saltou para a frente. Porém, parecia que Felene também estava pronta para isso, porque ela girou e aparou o primeiro ataque, com a sua própria faca na mão novamente.
"Que pena", disse Felene. "Nós poderíamos ter-nos divertido imenso. Eu sobrevivi à Ilha dos Prisioneiros. Achas que eu não dou conta de ti?"
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