— Você sabe que eu tento comer, Cai. Se pensou que conseguir essa informação de Orlando e Santiago me faria, de forma mágica, comer, dormir e me divertir tremendamente, se enganou — rosnou Elsie. Ninguém entendia o que ela havia passado e ela estava cansada de tentar melhorar as coisas para os outros.
— Já se passou bem mais de um ano desde que ele morreu. Você não dorme e perdeu bastante peso. Precisa de um encerramento. Não pode sobreviver assim — respondeu Cailyn enquanto contornava o balcão e a segurava pelos ombros.
— Sabe o quê, Cai? Encerramento é um mito. O mito mais pérfido já criado. Não me esqueci dele, nem parei de amá-lo. Nada pode tornar seu assassinato menos traumático ou trágico. Não há cura mágica para apagar as memórias ou o sangue. Minhas emoções não são um quadro que pode ser limpo. Não foi o seu marido e melhor amigo que foi arrancado da sua vida, então desça dessa droga de pedestal! — soluçou ela e caiu nos braços da irmã.
Uma mão grande e quente pousou em suas costas.
— Por que você não se senta, vou preparar uma bebida para você. — Ela ergueu a cabeça, enquanto o tom grave da voz de Zander causava arrepios em sua espinha. Quando encontrou o olhar dele, as emoções que ela viu refletidas ali a abalaram.
— Seria ótimo, obrigada. — Ela se aproximou de uma das cadeiras da mesa da cozinha e se acomodou nela. Cailyn ajudou Zander, dando a Elsie espaço para recuperar a calma. Ninguém havia começado a comer, e a tensão no apartamento poderia ser cortada com uma faca. Não estava funcionando para ela. Não naquela noite.
Ela respirou fundo e recostou-se na cadeira. Ergueu as mãos, exasperada.
— Pelo amor de Deus, pessoal, relaxem e comam.
Orlando e Santiago riram e se dirigiram à mesa.
— Não precisa falar duas vezes. Estou com tanta fome quanto Cailyn. Posso fazer um prato para você? — perguntou Orlando.
Um ruído animalesco soou no apartamento. Zander estava rosnando? Quando ele se aproximou dela, ela perdeu a linha de raciocínio. Seu pensamento perdeu o rumo, e o calor que ela sentia antes agora era um inferno em chamas. Não estava pronta para o que viu nos olhos dele, não achava que jamais estaria. Sua devoção a Dalton produziu uma culpa forte demais para ser ignorada.
Ele caminhou até ela e colocou o pacote brilhante em seu colo; em seguida, apoiou as mãos nos braços da cadeira. O cabelo dele roçou sua face quando ele se inclinou para sussurrar em seu ouvido. A respiração dele era uma carícia de amante em seu rosto. Ela precisava mudar o rumo de sua imaginação. Ele não era seu amante, e nunca seria.
— Para você, minha doce lady E. Espero que isso traga um sorriso aos seus lábios deliciosos — prometeu Zander.
Ela permaneceu sentada, atordoada, enquanto ele beijava novamente seu rosto. Ele hesitou, esperando que ela levantasse a cabeça. Covarde como era, ela balançou a cabeça e se manteve cabisbaixa. Ele permaneceu assim, perto dela, por mais alguns segundos antes de se endireitar e pegar um prato. Ela levantou a cabeça e observou quando ele começou a enchê-lo de comida, invejando seu apetite saudável.
Ela encontrou o olhar questionador da irmã e deu de ombros; em seguida, voltou sua atenção para o pacote brilhante.
— Obrigada pelo presente, mas você não deveria… — murmurou ela.
— Bobagem. Isso não é nada. As bebidas estão prontas, mas concordo com sua irmã. Eu me sentiria melhor se você tivesse algo no estômago antes de beber. Posso pegar um pouco de comida para você?
A decepção com a notícia ainda estava no estômago dela como uma pedra. Seu propósito na vida havia sido caçar e matar o vampiro que assassinou Dalton, mas agora tudo havia terminado.
— Só uma bebida, por favor. Prometo comer, mas preciso de uma bebida — explicou ela, quando viu a expressão séria dele.
Sentindo-se estranha com o pacote no colo, ela espiou dentro dele e retirou o papel de seda verde, vendo várias caixas pequenas. Uma fragrância almiscarada e amadeirada saiu da bolsa. Era o perfume masculino de Zander, e isso a deixou enlouquecida. Sua pele se retesou, enquanto um zumbido percorria seu corpo. Sua cabeça girou. Onde estava aquela bebida?
Ela agarrou o papel, lutando contra uma onda de calor. Se não estava enganada, ele estava bastante interessado nela. Ela passou os olhos nele, e a luxúria havia retornado aos olhos dele. Aquilo a atingiu, e ela corou intensamente. Estava em território desconhecido. Ela e Dalton haviam sido namorados no colégio, e ela não sabia como lidar com a situação.
Optando por ignorar Zander, ela pegou a primeira caixa e levantou a tampa. Todas as caixas continham chocolates gourmet . Hmmm, ela adorava doces. Antes de se permitir, ela encontrou o olhar de Zander e sentiu um aperto estranho ao ver que os olhos dele não revelavam nada. Ela se levantou com pernas trêmulas e deu três passos até parar na frente dele. Precisou esticar o pescoço para olhá-lo.
— Você dá doces caros a todos os seus amigos? Nesse caso, estou feliz que nos tornamos amigos. Obrigada. — Ela ficou na ponta dos pés e esticou os braços, envolvendo o pescoço dele, e o abraçou. Cada músculo do corpo dele se retesou e ela se preocupou em tê-lo ofendido, até que ele relaxou e segurou suas costas. Zummm!
Sua irmã pigarreou bem alto atrás dela. Largar Zander lhe era surpreendentemente difícil. Ela o soltou e tentou se virar, mas não conseguiu se mover. Zander ainda a segurava. Ela o olhou nos olhos e murmurou:
— Você precisa me soltar agora.
Uma das sobrancelhas dele se ergueu, ao mesmo tempo em que ele dava um sorriso enviesado.
— Eu? Não estou acostumado a seguir ordens. Normalmente, sou eu quem as dá. — Ele riu, piscando para ela, e afrouxou o abraço.
Ele pegou o prato de comida que havia colocado na mesa e ela bateu em seu braço.
— Bem, você não é o Sr. Mandão? — provocou ela, sorrindo, e, em seguida, virou-se para a irmã e pegou a bebida que ela estava lhe entregando. — Obrigada, mana. E prometo que vou comer. Na verdade, pretendo começar com esses chocolates.
Ela tomou um gole da bebida e pegou uma caixa. Colocou um chocolate na boca. Delicioso. Chocolate e tequila, sua combinação favorita. Ela bebeu e observou os homens interagirem com sua irmã por vários minutos.
Orlando parou ao lado dela e pegou seu copo vazio.
— Você gostaria que eu recarregasse isso? — Um homem que combinava com ela, e nem mesmo reclamava por ela não comer.
Ela sorriu para ele e respondeu:
— Sim, obrigada. — Uma agitação agradável vibrava em seu corpo graças ao estômago vazio.
Ela pegou os chocolates e foi para a sala. Um caramelo de baunilha levemente salgado a tentava.
— Mmmm — gemeu ela, enquanto comia, fechando os olhos e saboreando o doce. Eles se abriram quando a almofada ao lado dela afundou. Zander havia se juntado a ela no sofá-cama. Uma rápida olhada ao redor disse que Cailyn estava conversando com Santiago do outro lado da pequena sala e Orlando estava na cozinha. De repente, seu apartamento lhe pareceu ainda mais apertado.
Distraindo-se da presença dele, ela pegou um chocolate com mel, açafrão e lavanda e deu uma mordida. Não tão bom quanto o de caramelo. Ela enfiou as pernas embaixo do corpo, sentando-se de pernas cruzadas e se virou para Zander.
— Você mencionou que dá ordens. O que faz?
Ele pousou o garfo e colocou o braço na parte de trás do sofá-cama.
— Eu chefio uma grande… corporação. Lidamos com segurança e proteção. O que você faz? Na outra noite, você apenas disse ser estudante. Você também trabalha?
Ela deu uma mordida em um chocolate com pimenta. Argh, ela colocou a porção não comida de volta na caixa. Não queria ser rude, mas tinha um gosto horrível. Onde estava sua bebida?
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