"Eu era a professora de classe de Joanna," afirmou a senhora, com as mãos cercando uma xícara de chá fraco, que ela tinha o hábito de girar em seus dedos como se estivesse tentando afastar a artrite. "A morte dela chocou a todos na comunidade. Foi tão inesperado, e ela era tão amável. Tão brilhante, tão bonita. Quero dizer, havia alguns verdadeiros terrores naquela classe, mas Joanna, ela sempre foi tão bem comportada."
Slim ouviu pacientemente quando Diane começou um longo monólogo sobre os méritos da garota há muito falecida. Quando ele teve certeza que ela não estava olhando, ele tirou um cantil de bolso e derramou uma gota de uísque em seu chá.
"O que aconteceu no dia em que ela se afogou?" Slim perguntou, quando Diane começou a divagar em histórias de seus dias de ensino. "Ela não sabia sobre as correntes na Enseada Cramer? Quero dizer, Joanna não foi a primeira a morrer lá em baixo. Nem a última."
"Ninguém sabe o que realmente aconteceu, mas o corpo dela foi encontrado na linha da maré alta no início da manhã por alguém passeando com um cachorro. Nessa hora, é claro, já era tarde demais."
"Para salvá-la? Bem-"
"Para o casamento dela."
Slim sentou-se. "Repita?"
"Ela desapareceu na noite anterior ao seu grande dia. Eu estava lá, entre os convidados enquanto esperávamos por ela. Claro, todo mundo assumiu que ela tinha abandonado ele."
"Ted?"
A velha franziu a testa. "Quem?"
"O noivo dela? Seu nome era-"
Ela balançou a cabeça, acenando para Slim com o movimento de uma mão manchada pela idade.
"Eu não me lembro agora. Mas lembro-me do rosto dele. A foto estava no jornal. Eles nunca deveriam ter fotografado um homem com o coração partido assim. Embora, devo dizer, houveram rumores..."
"Que rumores?"
"Que ele a deixou. A família dela tinha dinheiro, a dele não."
"Mas antes do casamento?"
"É por isso que nunca fez sentido. Há maneiras melhores de deixar alguém, não há?
A maneira como Diane ergueu o rosto e olhou para ele fez Slim sentir como se ela estivesse olhando dentro de sua alma. Eu nunca matei ninguém, Slim queria dizer a ela. Eu posso ter tentado uma vez, mas nunca matei.
"Houve uma investigação?"
Diane deu de ombros. "Claro que houve, mas não deu em nada. Era o início dos anos 80. Naquela época, muitos crimes não eram resolvidos. Não tínhamos todos esses testes forenses e de DNA e tudo isso que você vê na TV agora. Perguntas foram feitas — lembro-me de ter sido entrevistada — mas sem provas, o que poderiam fazer? O caso foi descartado como um acidente infeliz. Por alguma razão boba, ela foi nadar na noite anterior ao seu casamento, saiu de onde dava pé, e se afogou.
"O que aconteceu com o noivo?"
"Ele se mudou, foi a última coisa que ouvi."
"E as famílias?"
"Ouvi dizer que a dele foi para o exterior. A dela mudou-se para o sul. Joanna era filha única. A mãe dela morreu jovem, mas o pai dela morreu no ano passado. Câncer." Diane suspirou como se este fosse o auge da tragédia.
"Sabe de mais alguém com quem eu poderia falar?"
Diane deu de ombros. "Devem haver velhos amigos por aí. Eu não saberia. Mas cuidado. Não se fala sobre isso."
"Por que não?"
A velha senhora colocou seu chá em uma mesa de café coberta de vidro com borboletas tropicais sob sua superfície prensada.
"Carnwell costumava ser muito menor do que é hoje," disse ela. "Hoje em dia se tornou uma espécie de cidade dormitório. Você pode caminhar até as lojas agora sem ver um único rosto familiar. Nunca foi assim. Todo mundo conhecia todo mundo, e como toda comunidade unida, tínhamos bagagem, negócios que preferimos que fiquem em segredo."
"O que poderia ser tão ruim?"
A velha virou-se para olhar pela janela, e no perfil Slim podia ver seu lábio trêmulo.
"Há aqueles que acreditam que Joanna Bramwell ainda está conosco. Que ela... ainda nos assombra."
Slim desejou ter colocado uma dose mais forte de uísque em seu chá. "Eu não entendo," disse ele, forçando um sorriso falso. "Um fantasma?"
"Você está zombando de mim, senhor? Eu acho que talvez seja hora de você-"
Slim levantou-se antes dela, levantando as mãos. "Sinto muito, senhora. É que tudo isso soa incomum para mim."
A mulher olhou pela janela e murmurou algo sob sua respiração.
"Desculpe, não entendi."
O olhar em seus olhos o fez tremer. "Eu disse que você não diria isso se a tivesse visto."
Como se tivesse ficado sem bateria, Diane não diria mais nada de interesse. Slim acenou com a cabeça enquanto ela o levava de volta para a porta da frente, mas tudo o que ele conseguia pensar era na expressão nos olhos de Diane, e como ela o fez querer olhar por cima de seu ombro.
Debruçado sobre um prato de pizza requentada, Slim pensava sobre o que ele deveria dizer a Emma.
"Acho que meu marido está tendo um caso," começava a primeira ligação gravada de Emma para o celular de Slim. "Sr. Hardy, seria possível me retornar?"
Casos eram fáceis de provar ou refutar com um pouco de espionagem e algumas fotografias; eles eram o arroz com feijão dos investigadores particulares, o tipo de trabalho fácil para pagar a hipoteca. Ele já tinha resolvido esse caso. Ted estava limpo, a menos que fosse possível ter um caso com o fantasma de uma garota afogada.
Emma se ofereceu para pagar as informações, e a conta de Slim estava no vermelho. Mas como ele poderia explicar o ritual que Ted fazia toda sexta à tarde?
Ele marcou um encontro com Kay em um café local.
"É um ritual antigo," disse Kay a ele. "Ele chama um espírito errante para voltar ao lugar que chama de lar. O seu cara está pedindo a um espírito para voltar para ele. Parte do texto bate com o manuscrito que encontrei em um arquivo online, mas outra parte foi alterada. É difícil, a gramática é um pouco incerta. Eu acho que o seu cara fez as alterações ele mesmo."
"E o que diz?"
"Ele pede que lhe seja dada uma segunda chance."
"Tem certeza disso?"
"Certeza. Mas o tom... o tom é estranho. Pode ser um erro de tradução, mas... a maneira como ele diz, é como se algo ruim fosse acontecer se ela não voltar."
Kay concordou em traduzir o ritual da semana seguinte também, para ver se havia alguma variação, mas depois disso, infelizmente, ele disse que precisaria receber por seu tempo.
Slim precisava dizer algo à Emma. As despesas, tanto reais quanto possíveis, estavam começando a aumentar. Antes, porém, ele tentou recorrer a um de seus contatos do exército, para ver se ele poderia desenterrar um pouco mais de informação.
Ben Orland trabalhou na polícia militar, antes de assumir um posto de superintendente em Londres. Se por um lado seu tom era frio o suficiente para lembrar Slim da desgraça que ele tinha trazido para sua divisão, Ben se ofereceu para fazer uma chamada em nome de Slim para um velho amigo, o chefe da força policial local de Carnwell.
O chefe de polícia, porém, não estava retornando ligações para investigadores particulares.
Slim decidiu compilar as informações que ele tinha até então para passar para Emma, e deixar por isso. Afinal, ele tinha conseguido sua comissão inicial, e se ele se deixasse cavar muito mais fundo, seria em seu próprio tempo e às suas próprias custas.
Primeiro, ele passou pela Enseada Cramer para dar um passeio, imaginando se as penínsulas poderiam inspirá-lo.
Era quinta-feira, e a praia estava deserta. Com a estrada sinuosa, esburacada, e em certas partes tão danificada que era pouco mais do que uma trilha de terra sobre pedras, não era surpreendente que a Enseada Cramer fosse impopular. No entanto, no topo da praia, ele encontrou fundações de pedra sugerindo que esta tinha desfrutado de uma popularidade muito maior em dias passados.
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