Trelee, na fenda de estrada onde o mapa indicava que a aldeia deveria estar, era apenas uma dúzia de casas, espaçadas ao longo de meia milha de um trecho mais plano interrompido por portões em campos abertos com vista para Bodmin Moor. Algumas trilhas de fazendas desapareciam em vales escondidos, aglomerados de celeiros e casas de fazenda isoladas, revelando apenas telhados por entre as árvores sem folhas.
Slim acorrentou sua bicicleta a um portão próximo a uma placa do conselho anunciando TRELEE em letras confiantes, a grama ao redor cortada como se tivesse sido golpeada por uma vara, então continuou a pé, se perguntando se ele havia perdido a viagem. As três casas mais próximas eram bangalôs modernos afastados da estrada. Nenhuma tinha veículos do lado de fora, sugerindo que os ocupantes estavam trabalhando em alguma metrópole distante. Ele avistou alguns outros sinais de vida: alguns brinquedos de criança espalhados na garagem de uma casa, um gato elegante sentado na janela de outra.
Depois dos bangalôs, havia três chalés mais velhos, com paredes de pedra e telhados de palha, um pedaço de um documentário de viagem transportado para o meio do nada em Cornwell. Os dois primeiros pareciam vazios, portões trancados e caixas de correio lacradas, mas um velho vasculhava o jardim do terceiro, esvaziando os restos de plantas mortas em uma pilha de composto antes de empilhar as bandejas velhas.
Slim ergueu a mão em resposta a uma saudação educada.
"Gostaria de saber se eu poderia lhe tomar um minuto?" ele chamou.
O homem se aproximou. "Claro. Você é novo por aqui?"
"Estou visitando. Férias."
O homem assentiu de forma atenciosa. "Que bom. Eu teria escolhido algum lugar um pouco mais perto da costa, mas cada um com seu gosto."
Slim deu de ombros. "Estava barato."
"Isso não é nenhuma surpresa."
"Estou procurando alguém que possa ter conhecido Amos Birch," disse Slim, as palavras saíram antes dele realmente saber o que estava dizendo. "Estou ciente de que ele faleceu, mas me pergunto se ele talvez tivesse uma esposa ou um filho. Eu encontrei algo que pode pertencer a ele."
O homem ficou visivelmente tenso com o nome de Amos. "Se ele faleceu ou não, há controvérsias. Quem deseja saber?"
"Meu nome é Slim Hardy. Estou hospedado na Lakeview em Penleven."
"O que você encontrou?"
Slim achou que não havia razão para esconder nada. "Um relógio. Ouvi dizer que ele tinha um hobby."
O homem riu. "Um hobby? Quem te disse isso?"
"É só o que eu ouvi."
"Bem, meu amigo, se você encontrou um relógio de Amos Birch eu guardaria, a sete chaves."
"Por que isso?"
"Essas coisas são muito procuradas. Amos Birch não fazia por hobby. Ele era um artesão de renome nacional. Seus relógios valem milhares de libras."
Enquanto Slim se sentava em uma mesa com o velho que havia se apresentado como Lester "mas me chame de Les" Coates, ele se viu constantemente pensando no relógio que tinha deixado casualmente em sua cama na hospedaria. Ele pode valer uma pequena fortuna, algo que, na ausência de qualquer trabalho, seria útil agora.
"As histórias, são muitas," disse Les durante o chá que Slim achou frustrantemente fraco. "Ele literalmente estava aqui em um dia e sumiu no outro. Vão desde cair em uma mina em Bodmin Moor até um sequestro por um grupo terrorista internacional. Bastante fantasioso, pode-se dizer."
"Ele morava perto daqui?"
"Na fazenda Worth. Vá para o norte a partir da minha, e pegue a segunda entrada à esquerda. Ele tinha pessoas que trabalhavam na fazenda para ele, mas era uma operação mínima. As pessoas sempre alegaram que ele mantinha o lugar dando prejuízo graças a um incentivo fiscal."
"Por seus relógios?"
"Eventualmente. Ele começou como fazendeiro, assumiu a fazenda do pai, eu acredito. Então, quando o interesse em seu trabalho paralelo cresceu, ele deixou um de lado para expandir no outro."
"Vocês eram amigos?"
Les balançou a cabeça. "Vizinhos. Ninguém era mesmo amigo do velho Birch. Não era a pessoa mais sociável, mas ele era amigável o bastante se você passasse por ele na rua."
"Família?"
"Esposa e filha. Mary viveu alguns anos a mais do que ele, mas depois que ela se foi, Celia vendeu o lugar e se mudou. O novo casal lá são os Tinton. Pessoas legais, reservadas. Maggie é um pouco metida a chique, mas é legal."
"Eles sabiam a história do lugar quando o compraram?"
Les balançou a cabeça. "Eu não sei dizer. Eu nem sabia que Celia estava vendendo até as vans de mudança começarem a aparecer. Certamente não havia placas de venda até que a placa de "vendido" apareceu. Teria sido bom ver alguém daqui comprá-la, mas não se pode fazer nada quanto a essas coisas. Mas ninguém ficou triste ao saber que Celia ia embora. Já ia tarde."
Slim franziu a testa com a mudança abrupta no tom de Les. Lembrou-lhe da reação que ele tinha recebido na primeira vez que mencionou Amos. "Por que diz isso?"
Les suspirou. "A garota não era flor que se cheirasse. O velho Birch tinha dinheiro. Não faltava nada à garota. Corria por aí como se não fosse da conta de ninguém. Diziam todo tipo de coisa sobre ela."
"Por exemplo?"
Les parecia pesaroso, fazendo uma careta como se as palavras fossem uma fruta podre por dentro que ele não tivesse escolha a não ser engolir.
"Ela gostava de homens, é o que diziam. De preferência casados. Mais do que algumas casas foram vendidas enquanto ela estava por aqui, famílias que se separaram. Ela tinha apenas dezenove anos quando Amos desapareceu, e havia muitos que disseram que ele não aguentava mais."
"Você acha que ela o matou?"
Les bateu na mesa com força suficiente para fazer Slim dar um pulo, em seguida, soltou uma risada alta. "Pelo amor de Deus, não. Acha que ela sairia impune? A menina tinha suas habilidades, mas não era lá muito esperta."
Slim queria perguntar se Les sabia o novo endereço de Celia, mas o velho estava franzindo a testa enquanto olhava para o nada. Slim olhou ao redor, procurando sinais da presença de uma mulher e não encontrou nenhum. Ele se perguntou se as histórias do estilo de vida decadente de Celia Birch vinham de mais do que apenas boatos.
"Obrigado por seu tempo," disse ele, levantando-se. "Eu vou deixar você aproveitar seu dia."
Les levou Slim até a porta. "Volte quando quiser," disse ele. "Mas se quer meu conselho? Não remexa muito esse assunto."
"Como assim?"
"As portas por aqui estão sempre abertas para um estranho. Mas se você se intrometer muito no que se passa atrás delas, eles tendem a se fechar."
Slim almoçou ao lado de uma escadaria com vista para a distante baeta verde de Bodmin Moor. Pegadas na lama macia no canto do gramado indicavam que a rota era popular, mas ele ainda não tinha visto nenhum outro transeunte.
Ele se sentiu um pouco desconfortável ao bater na porta da fazenda Worth, mas a trilha que descia para o vale contornava a parte de trás do quintal antes de cortar um riacho e seguir para a charneca, então Slim podia olhar através da sebe enquanto passava.
Uma casa de fazenda dava para um pátio de concreto cercado por construções externas: dois grandes celeiros de animais, um de maquinário e dois outros cujos usos Slim só podia imaginar; produção de grãos ou laticínios, talvez. Na parte de trás do pátio principal, um caminho de cascalho levava a um aglomerado de banheiros externos que pareciam ser de uso pessoal. Slim apertou os olhos através da cerca, perguntando-se se a maior construção - um galpão de tijolos com duas janelas de cada lado de uma porta e uma pequena chaminé projetando-se do telhado - tinha sido, um dia, a oficina de Amos Birch.
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