Paulo Coelho - O manual pratico do vampirismo

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Paulo Coelho

Nelson Liano Jr

O manual prático do vampirismo

Apresentação

Na noite de 5 de maio de 1985, cansados de uma longa escalada ao cume do Pico da Bandeira, eu e Nelsinho resolvemos passar a noite num misterioso hotel situado a alguns quilômetros do abrigo de alpinistas. Nós pretendíamos dormir assim que o jantar acabasse, mas um outro hóspede do hotel mudou nossos planos.

Sentando-se em nossa mesa, sem a menor cerimônia, o hóspede — que se apresentou como um finlandês, mas cujo sotaque lembrava alguém dos Balcãs — disse que se chamava Flamínio de Luna, e que tinha lido numa revista uma reportagem sobre meu interesse por vampiros. Afirmou que tinha sido testemunha de um caso de vampirismo com alguém que amava, e por causa disso havia jurado fazer todo o possível para desmascarar o mito — criado pelos próprios vampiros — de que tais criaturas não existem. Durante anos pesquisou suas origens históricas, suas raízes no mundo de hoje, e as fórmulas para identificar e combater um vampiro. Alto, cabelos brancos, vestido com muito mais elegância do que o lugar ermo onde nos encontrávamos permitia, Flamínio a todo momento lamentava a perda de Mata Ulm (cuja história vai contada na Quinta Parte desse livro), afirmando ter sido este seu único amor nos muitos anos de existência. Durante horas a fio ficamos ouvindo, fascinados, aquilo que nos parecia ser uma grande esquizofrenia, mas uma esquizofrenia inteligente, onde as menores peças faziam sentido.

No dia seguinte procurei Flaminio de Luna para conversarmos mais sobre o tema, mas soube que ele havia partido. O caso não teria passado de uma bela história para contarmos aos nossos amigos, quando recebi — duas semanas mais tarde — o manuscrito de O MANUAL PRÁTICO DO VAMPIRISMO. O pacote, entregue pelo correio, não trazia o endereço do remetente.

Meses depois, por acaso, encontrei no jornal CORRIERE DE LA SERA uma notícia surpreendente, a respeito de uma série de assassinatos ocorridos em Palermo, na Sicilia. As vítimas eram encontradas com a garganta aberta, e sem um pingo de sangue. Apesar das autoridades locais atribuírem os crimes a uma vendetta da Máfia, grande parte dos habitantes — principalmente os mais velhos — juravam que tudo aquilo era obra de um feiticeiro, nascido em 1815, e do qual não se tinha notícia de haver morrido. Seu nome: Flamínio Di Luna.

Pela descrição dos habitantes de Palermo, quero acreditar que o finlandês do hotel e o assassino de Palermo são a mesma pessoa. Neste caso, Flamínio (ou Flaminius) pertence aquela categoria de pessoas que se rebelaram contra a própria natureza, mas não tem meios (ou coragem) para se libertarem dela. Fornecendo a pista correta para sua destruição, Flamínio deixa aberta a porta de seu renascimento.

Mais uma coisa: pedimos ao leitor que se aventurar por estas páginas, que seja muito prudente ao tentar colocar em pratica qualquer ritual aqui descrito. Depois da conversa com Flamínio de Luna, não me custaria nada afirmar que os vampiros existem.

PAULO COELHO

PREFÁCIO

Este livro de Nelson Liano Jr. em parceria com Paulo Coelho, que há muito vem estudando este obscuro setor do ocultismo que é o Vampirismo, é sem dúvida um gratificante exemplo de uma pesquisa séria para além dos umbrais do materialismo que, dominando e envolvendo o mundo contemporâneo, nele propaga culturalmente um certo desleixo para com uma missão mais espiritual dos fatos e da vida.

Os autores nos mostram, através da temática que tão bem dominam, quanto o homem contemporâneo necessita libertar-se da prisão das aparências através de uma atitude mental sadia e guerreira (samurai), segundo a qual, por sua vontade, possa desenvolver uma condição mais criativa no mundo, sem deixar-se dominar pelo emocional.

Em boa hora chega este livro, tão necessário ao homem moderno, passível de vampirizar-se a si mesmo pelo desânimo diante de uma civilização em que vencer significa dominar seus semelhantes, e a revolta dos oprimidos leva o nome de subversão. Porque vampiro como bem colocam os autores é aquele que nem aceita carregar sua cruz e viver dignamente e o seu destino evolutivo, nem aceita morrer. Suspenso em um limbo nem de vida nem de morte, alimenta com a energia do sangue alheio, uma elegante aparência de saúde.

Assim, com forte vigor cultural e poético, o vampiro nos é apresentado, neste livro, como um ser que, revestido de sua própria solidão rompe esta lei natural do cosmos, que é a constante troca energética entre as diversas manifestações da Vida.

Pautado em vários anos de estudos e pesquisas, este livro nos adverte quanto aos benefícios de uma vida sadia, sintonizada segundo um comportamento ético e é um bem-vindo exemplo de que o, para mitos, insólito enfoque (de um estudo) ocultista, tem uma contribuição prática e filosófica inestimável para a compreensão do cotidiano, e principalmente para uma corajosa atitude de luta em favor dos mais nobres valores da humanidade, numa época em que o progresso científico e tecnológico tem lançado o ser humano diante de um tão grande leque de opções em todos os sentidos, determinando, em função de interesses políticos e econômicos, um outro tipo de vampirismo, em que certa confusão mental pode levar a uma indiferença emocional e à descrença, culminando com a atitude de tantas pessoas que é a de temer a morte e portanto não se engajar na vida, como qualquer vampiro.

Neste «Manual Prático do Vampirismo», Paulo Coelho, resumindo sua trajetória de estudioso vampirólogo, irmana-se com Jean-Paul Bourre, pesquisador de Vlad Drácula (O Drácula de Bram Stoker) a cuja contribuição acrescenta imparcialidade, a ele nivelando-se em liberdade de pensamento e conhecimento.

Eu, KAANDA ANANDA, recomendo este livro a todos livre pensadores, — livres para voar e morrer nas alturas, donde, projetando-se com os raios do sol, venham a renascer cada vez mais luminosos.

Parabéns ao Grande Shogun Paulo Coelho e ao dedicado Nelson Liano Jr.

KAANDA ANANDA

Mensagem

Vampiros

Os vampiros são às vezes bons e às vezes maus. E às vezes bons e maus!

Os vampiros segundo alguns são seres extraterrestres que viajam em discos voadores invisíveis. Segundo outros, os vampiros são antigos seres humanos sábios, espécie de mandarins-gurus que obtiveram grandes e eficazes resultados quanto à longevidade, atingindo assim a vida eterna, velha meta dos taoistas e de vários outros magos tanto do Oriente quanto do Ocidente!

Ainda sobre os vampiros: eles além de serem tão eternos (e nisto realizam uma das metas fundamentais do marxismo! que segundo Jean Paul Sartre é a meta da conquista das estrelas e a conquista da morte!) são também o pilar pi-Freudiano da bi-sexualidade!

Os dois autores desse livro são meus amigos, e portanto somos três Vampiros?

E/ ou proto-vampiros que vos escrevem e que declaram em uma Nova Solidariedade!

Vampiros do mundo todo!

UNI–VOS!

JORGE MAUTNER

Da Origem do Vampiro

O vampiro é feito das trevas, e trevas não passam de luz condensada. Daí, é preciso ter bastante cuidado quando sentar-se com estranhos na mesa, já que normalmente os vampiros são seres que passam por agradáveis e simpáticos. Chegam sob o pretexto de lhe convidar para alguma coisa, seja beber um copo de cerveja, seja resolver seu problema de itinerário.

Primeira Parte

O Grande Pentagrama Europeu

I. Das Origens do Vampirismo

Todas as Mitologias e grandes religiões concordam que a bipolaridade energética é uma constante no Universo. Sempre que existir o Bem, existirá também o Mal. Para os Gregos, no princípio era o Caos, o Ovo Primordial. Este Ovo dividiu-se em dois seguindo uma força ordenadora, Eros, formando o Céu e a Terra. Eros é a virtude atrativa que leva as coisas a se juntarem, criando a Vida. É uma força fundamental do mundo.

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