“Não se preocupem”, respondeu ela.”Tenho uma viagem de apenas três dias diante de mim. Eu fico bem.”
“Assim deverás”, Baylor entrou na conversa, aproximando-se.”E o teu novo cavalo vai certificar-se de isso.”
Com isso, Baylor empurrou a porta para os estábulos, e eles seguiram-no, entrando no baixo edifício de pedra, com o cheiro dos cavalos forte no ar.
Os olhos de Kyra ajustaram-se lentamente à luz fraca enquanto ela o seguia para dentro, os estábulos húmidos e escuros, preenchidos com o som dos cavalos excitados. Ela olhou para cima e para baixo dos estábulos e viu perante ela filas com os cavalos mais bonitos que ela alguma vez vira – grandes, fortes, lindos, pretos e castanhos, cada um deles um campeão. Era uma arca do tesouro.
“Os Homens do Lorde reservaram o melhor para eles próprios”, explicou o Baylor enquanto andavam, percorrendo as filas com um ar de superioridade, no seu elemento. Ele tocou num cavalo e afagou outro e os animais pareciam ganhar vida na sua presença.”
Kyra caminhou lentamente, assimilando tudo. Cada cavalo era como uma obra de arte, maiores do que maioria dos cavalos que ela já tinha visto, cheios de beleza e de poder.
“Graças a ti e ao teu dragão, estes cavalos são agora nossos”, disse Baylor.”É justo que sejas tu a fazer a tua escolha. O teu pai instruiu-me para seres tu a primeira a escolher, mesmo antes dele.”
Kyra estava arrebatada. À medida que ela estudava o estábulo, sentiu um grande fardo de responsabilidade, sabendo que isto era a escolha de uma vida.
Ela andou devagar, percorrendo a sua mão ao longo das suas crinas, sentindo quão macios e suaves eles eram, quão poderosos, e estava perdida sobre qual escolher.
“Como é que eu escolho?”, perguntou ela a Baylor.
Ele sorriu e abanou a cabeça.
“Eu treinei cavalos a minha vida inteira”, respondeu ele, “Também os criei. E se há uma coisa que eu sei, é que não há dois cavalos iguais. Uns são criados para a velocidade, outros para a resistência; outros são feitos para a força, enquanto outros são feitos para levar cargas. Alguns são demasiado orgulhosos para carregarem o que quer que seja. E outros, bem, outros são feitos para a batalha. Uns prosperam em disputas a solo, outros apenas querem lutar, e outros ainda são criados para a maratona da guerra. Alguns serão o teu melhor amigo, outros vão estimular-te. A tua relação com um cavalo é uma coisa mágica. Eles devem responder-te, e tu a eles. Escolhe bem, e o teu cavalo deve ficar para sempre ao teu lado, em tempos de batalha e em tempos de guerra. Nenhum bom guerreiro está completo sem um.”
Kyra caminhou lentamente, com o coração a bater de excitação, passando cavalo a cavalo, alguns a olhar para ela, alguns a desviar o olhar, alguns a relinchar e a bater com os cascos impacientemente, outros quietos. Ela estava à espera de uma ligação, mas não sentiu nenhuma. Estava frustrada.
Então, de repente, Kyra sentiu um arrepio na espinha, como um relâmpago a atingi-la. Era como um som agudo que ecoou pelos estábulos, um som que lhe disse que aquele era o seu cavalo. Não parecia um cavalo típico – mas emitia um som muito mais sombrio, mais poderoso. Cortou o ruído e elevou-se por cima dos sons de todos os outros, como um leão selvagem a tentar libertar-se da sua jaula. Aterrorizou-a ao mesmo tempo que a envolveu.
Kyra virou-se para a sua proveniência, no fim do estábulo, e quando o fazia a madeira de repente desabou. Ela viu os estábulos a despedaçarem-se, a madeira a voar por todos os lados, e seguiu-se uma agitação com vários homens a correr a tentar fechar o portão de madeira partido. Um cavalo não parava de esmagá-lo com os seus cascos.
Kyra correu para a agitação.
“Para onde é que vais?”, perguntou o Baylor.”Os cavalos bons estão aqui.”
Mas a Kyra ignorou-o, ganhando velocidade, com o seu coração a bater cada vez mais depressa enquanto corria. Ela sabia que ele estava a chamá-la.
Baylor e os outros apressaram-se para alcançá-la enquanto ela se aproximava do fim, e quando o fez, voltou-se e sobressaltou-se com a visão diante dela. Ali estava aquilo que parecia ser um cavalo, no entanto com o dobro do tamanho dos outros, com as pernas tão grossas como troncos de árvores. Tinha dois chifres pequenos e afiados, que mal se viam por detrás das suas orelhas. O seu couro não era castanho ou preto como os outros, mas antes um escarlate profundo – e os seus olhos, diferentes dos outros, eram verde brilhante. Eles olharam diretamente para ela, e a intensidade atingiu-a no peito, tirando-lhe a respiração. Ela não se conseguia mexer.
A criatura, elevando-se sobre ela, fez um barulho parecido com um rosnado, e revelou dentes afiados.
“Que cavalo é este?”, perguntou ela a Baylor, com a sua voz pouco mais alta do que um sussurro.
Ele abanou a sua cabeça com desaprovação.
“Isso não é um cavalo”, disse ele franzindo as sobrancelhas, “mas um monstro selvagem. Uma aberração. Muito raro. É um Solzor. Importado dos cantos longínquos da Pandesia. O Lorde Governador deve tê-lo guardado como um troféu para manter em exposição. Ele não podia andar na criatura – ninguém podia. Os Solzors são criaturas selvagens, que não são para domar. Vem – estás a perder tempo valioso. De volta aos cavalos.”
Mas Kyra ficou ali, enraizada no lugar, incapaz de desviar o olhar. O seu coração batia porque ela sabia que ele lhe estava destinado.
“Eu escolho este”, disse ela a Baylor.
Baylor e os outros ficaram sobressaltados, todos pasmados a olhar para ela como se ela fosse maluca. Seguiu-se um silêncio surpreendente.
“Kyra”, começou Anvin, “o teu pai nunca te permitiria – ”
“É a minha escolha, não é?”, respondeu ela.
Ele franziu as sobrancelhas e pôs as suas mãos nos quadris.
“Isso não é um cavalo!” insistiu ele.”É uma criatura selvagem.”
“Em brevet e mataria”, acrescentou o Baylor.
Kyra virou-se para ele.
“Não foste tu que me disseste para confiar nos meus instintos?” perguntou ela.”Bem, foi até aqui que eles me trouxeram. Este animal e eu pertencemos um ao outro.”
O Solzor de repente empinou as suas enormes pernas, esmagou outro portão de madeira e espalhou lascas por todo o lado e os homens encolheram-se. Kyra estava em
êxtase. Era selvagem e indomável e magnífico, um animal demasiado grande para este lugar, demasiado grande para cativeiro e, de longe, superior aos outros.
“Porque deveria ela chegar a tê-lo?” perguntou o Brandon, chegando-se à frente e empurrando os outros para fora do seu caminho.”Afinal de contas, sou mais velho. Eu quero-o.”
Antes que ela pudesse responder, Brandon correu para a frente como se para reivindicá-lo. Pulou para cima das suas costas e, quando o fez, o Solzor contrariou-o descontroladamente e atirou-o para fora dali. Ele voou pelos estábulos, esmagando-se contra a parede.
Em seguida, Braxton correu para a frente, como se para reivindicá-lo, também, e quando o fez, Solzor balançou a cabeça e cortou o braço de Brandon com os seus dentes afiados.
A sangrar, Brandon gritou e correu dos estábulos, agarrando o seu braço. Braxton levantou-se e seguiu-o, tendo escapado ao Solzor quando este o tentou morder.
Kyra ficou paralisada, mas de alguma forma sem medo. Ela sabia de que, com ela, seria diferente. Ela sentiu uma ligação com este monstro, da mesma forma que tinha com Theos.
Kyra, de repente, deu um passo em frente, corajosamente, ficando mesmo defronte dele, ao alcance dos seus dentes mortais. Ela queria mostrar a Solzor que confiava nele.
“Kyra!” gritou Anvin, com preocupação na sua voz.”Volta!”
Mas Kyra ignorou-o. Ela ficou ali, olhando fixamente nos olhos do monstro.
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