Por um lado, era loucura. No entanto, por outro, a mãe de Kyra tinha-a enviado para ali e ela sentia profundamente que a missão era verdadeira. Ela sentia que Marda era onde ela era necessária, onde estava o seu teste final. Onde estava o Bastão da Verdade, que só ela podia recuperar. Era uma loucura, mas ela já conseguia sentir o bastão, nas profundezas da sua coragem, convocando-a, atraindo-a para Marda como um velho amigo.
Ainda assim, Kyra, pela primeira vez tanto quanto se conseguia lembrar, sentiu uma onda de insegurança a dominá-la. Era ela realmente forte o suficiente para fazer aquilo? Para ir para Marda, um lugar até mesmo os homens do seu pai temiam aventurar-se? Ela sentia uma batalha feroz dentro da sua própria alma. Tudo dentro dela gritava que ir para Marda seria ir para a sua morte. E ela não queria morrer.
Kyra tentou forçar-se a ser forte, para não se desviar do caminho. Ela sabia que essa era uma viagem que tinha de fazer e ela sabia que não podia fugir do que lhe era exigido. Ela tentou empurrar da sua mente os horrores que a aguardavam no lado mais distante das Chamas. Uma nação de trolls. Vulcões, lava, cinzas. A nação do mal, da bruxaria. Criaturas e monstros inimagináveis. Ela tentava não se lembrar das histórias que ouvira quando criança. Um lugar onde as pessoas se despedaçavam umas às outras por divertimento, lideradas pelo líder demoníaco Vesúvio. Uma nação que vivia para o sangue, para a crueldade.
Eles desceram a pique para baixo das nuvens por um momento e Kyra olhou para baixo e viu, muito abaixo, que eles estavam a passar por cima do canto nordeste de Escalon. Ela ficou atordoada quando começou a reconhecer a paisagem: Volis. Ali estavam as colinas da sua cidade natal, outrora tão belas, agora uma cicatriz do que eram antes. Ela estava despedaçada com o que via. Ali, à distância, estava a fortaleza do seu pai, agora toda em ruínas. Era um grande monte de escombros, salpicados com cadáveres que, de forma negligenciada, estavam espalhados em posições não naturais, visíveis mesmo dali, olhando para o céu, como se perguntando a Kyra como é que ela tinha deixado que aquilo acontecesse com eles.
Kyra fechou os olhos e tentou afastar a imagem da sua mente – ainda que não conseguisse. Era muito difícil voar simplesmente sobre este lugar que outrora tinha significado tanto para ela. Ela olhou para o horizonte, na direção de Marda, sabendo que devia continuar, mas algo dentro dela simplesmente não a conseguia fazer passar pela sua cidade natal. Ela teve de parar e ver por si mesma antes de deixar Escalon, naquela que podia ser a sua última viagem.
Kyra dirigiu Theon para descer a pique e ela conseguia senti-lo a resistir – como se ele também se sentisse impulsionado a manter a sua missão e encaminhar-se para Marda. Relutantemente, porém, ele cedeu.
Desceram a pique e pousaram no centro do que tinha sido outrora Volis, uma vez um bastião movimentado cheio de vida – crianças, dança, música, cheiros de comida, os orgulhosos guerreiros do seu pai andando empertigados para a frente e para trás. A respiração de Kyra susteve-se quando ela desmontou e andou. Ela soltou um choro involuntário. Não havia nada ali agora. Apenas entulho e um silêncio opressivo, quebrado apenas pelo som da respiração pesada de Theon e pelo raspar no chão das suas garras, como se ele próprio estivesse furioso, como se ansioso para sair. Ela não podia culpá-lo: esta cidade era agora um túmulo.
O cascalho rangia sob as botas de Kyra enquanto ela caminhava lentamente pelo lugar. Uma rajada de vento passava pelas planícies queimadas que cercavam a fortaleza. Ela olhava para todos os lados, necessitando ver, mas também necessitando desviar o olhar: era como um pesadelo. As Lojas Row, agora não passavam de um grande amontoado de escombros carbonizados; no seu outro lado estava o arsenal, agora completamente destruído, um monte de pedra, tendo o seu portão da frente cedido. Diante dela, a grande e imponente fortaleza, onde o seu pai tinha realizado tantas festas, onde ela mesma tinha vivido, agora estava em ruínas. Apenas algumas paredes restavam. A sua porta estava aberta, escancarada, como se convidando o mundo a entrar para ver o que em tempos tinha sido.
Конец ознакомительного фрагмента.
Текст предоставлен ООО «ЛитРес».
Прочитайте эту книгу целиком, на ЛитРес.
Безопасно оплатить книгу можно банковской картой Visa, MasterCard, Maestro, со счета мобильного телефона, с платежного терминала, в салоне МТС или Связной, через PayPal, WebMoney, Яндекс.Деньги, QIWI Кошелек, бонусными картами или другим удобным Вам способом.